Os atos contra a anistia e como as obras da COP30 afetam mulheres
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🔸 Os atos em protesto contra a PEC da Blindagem e o PL da Anistia mobilizaram manifestantes ontem, nas principais capitais do Brasil. No Rio de Janeiro, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque e Djavan puxaram o coro de “sem anistia” na Praia de Copacabana. Juntaram-se a eles Paulinho da Viola e Geraldo Azevedo, entre outros artistas. O ato atraiu milhares de pessoas e reuniu parlamentares da base governista, como Lindbergh Farias (PT) e Talíria Petrone (PSOL). O Metrópoles lembra que, nas redes sociais, Caetano Veloso chamou a Proposta de Emenda à Constituição de “PEC da Bandidagem” e convocou o ato: “Essa PEC tem que receber da sociedade brasileira uma resposta socialmente saudável, uma manifestação de que grande parte da população brasileira não admite um negócio desse, ainda mais às pressas levada à frente. A gente tem que ir para a rua, para a frente do Congresso, como fomos outras vezes. Voltar a dizer que não admitimos isso, como povo”.
🔸 Em São Paulo, os manifestantes estenderam uma bandeira do Brasil gigante na avenida Paulista. Ela foi carregada em frente ao Museu de Arte de São Paulo (Masp), no mesmo trajeto em que apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro ergueram uma bandeira dos Estados Unidos durante protesto no último 7 de setembro. Segundo a CartaCapital, o gesto também simboliza a defesa da soberania nacional diante da tentativa frustrada do presidente Donald Trump de intervir no julgamento de Jair Bolsonaro (PL), condenado a 27 anos e três meses de prisão por múltiplos crimes contra a democracia.
🔸 Enquanto a PEC da Blindagem avança, propostas para cortar privilégios de parlamentares estão paradas há anos. A mais antiga é a Proposta de Emenda à Constituição 470, de 2005, que extingue o foro privilegiado para deputados e senadores, determinando que sejam processados por juízes de primeira instância “como qualquer outro cidadão”. O Congresso em Foco conta que o texto foi arquivado duas vezes e apensado em 2018 à PEC 333/2017, de autoria do ex-senador Alvaro Dias, que restringe o foro a apenas cinco altas autoridades: presidente e vice da República, presidentes da Câmara, do Senado e do Supremo Tribunal Federal (STF). Apesar de estarem prontas para votação no plenário da Câmara desde 2018, as propostas seguem sem avanço, dependendo de inclusão na ordem do dia.
🔸 Para especialistas, o avanço de textos como a PEC da Blindagem demonstra a força do Centrão no Legislativo e a fragilidade do governo na Câmara, após o desembarque de partidos como União Brasil e PP. O Nexo analisa a PEC e o PL da Anistia com pesquisadores do Legislativo. Para a cientista política Joyce Luz, da FGV-São Paulo, “a resposta do Congresso com a PEC vem da tentativa do Supremo, principalmente do ministro Flávio Dino, de investigar as emendas Pix”. “Sem essa PEC, o STF segue as investigações, o que pode punir boa parte dos parlamentares ligados a seu grupo político. Esse ato é quase que assinar um atestado de que, de fato, parlamentares têm culpa no cartório no desvio desses recursos que o STF, hoje, está investigando”, completa Luz.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva embarcou ontem para Nova York, onde fará seu 10º discurso na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU). É a primeira viagem de Lula aos Estados Unidos desde que Trump impôs ao país tarifas de 50% sobre produtos brasileiros. O Correio Sabiá ressalta que o discurso do presidente é uma oportunidade para o governo brasileiro se posicionar aos olhos do mundo sobre temas sensíveis que afetam a relação bilateral com os EUA. Na ONU, Lula deve reforçar a independência do STF, rejeitar ingerências externas, criticar políticos brasileiros que atuam contra os interesses nacionais, destacar a queda do desmatamento e convocar os países para a COP30 em Belém. Ele também deve defender a criação de um Estado palestino, cobrar o fim do genocídio em Gaza e reiterar a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU.
📮 Outras histórias
Clarice Berto tem 15 anos e mais de cem medalhas de jiu-jitsu. Ela já foi campeã brasileira, sul-americana e europeia, além de hexacampeã alagoana. Agora, ela se prepara para disputar o Pan Kids IBJJF, em outubro, na Flórida, mas a viagem enfrenta uma dificuldade: a falta de patrocínio. A Eufêmea conta que Clarice nunca recebeu apoio público e depende de rifas, ajuda da família e alguns poucos patrocinadores privados para custear inscrições e deslocamentos. A adolescente conheceu o jiu-jitsu ainda criança, depois de passar por aulas de natação, dança e ginástica. “No começo eu resisti, porque eram muitas atividades para a idade dela. Mas a insistência foi tanta que eu cedi e pedi que ela abrisse mão de um dos outros esportes”, lembra a mãe da atleta, Aline Berta. Apesar das conquistas, como ter colocado Alagoas no topo do campeonato europeu em 2024, a falta de patrocínio segue como a maior barreira em sua trajetória. A mãe espera que a visibilidade internacional ajude a mudar esse cenário.
📌 Investigação
A COP – Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas – exclui as pessoas mais impactadas pela crise do clima. A exclusão acontece não só das discussões durante o evento, mas também de poder decidir sobre a própria vida devido às obras preparatórias. Em parceria com a Revista AzMina, a Carta Amazônia narra como a COP30 em Belém tem afetado a vida de mulheres, com remoções, trânsito caótico, tarifa alta e férias escolares bagunçadas. Creusa Caetano Silva, 80 anos, perdeu a casa, na periferia da capital paraense, onde criou seus seis filhos por causa das obras, e o valor da da indenização não cobre um novo lar na mesma região. “O que eu queria era só um cantinho. Um quartinho para a velhinha aqui ficar tranquila. Isso é o direito da gente, mas não querem dar”, afirma.
🍂 Meio ambiente
Florianópolis (SC) pode perder 11 unidades de conservação (UCs) depois da aprovação de um relatório preliminar da Câmara Municipal, que aponta supostas falhas jurídicas na criação e gestão das áreas. Juntas, as UCs ocupam aproximadamente um terço do território da Ilha, e o futuro de parques como a Lagoinha do Leste e o Manguezal do Itacorubi, além dos Refúgios de Vida Silvestre do Morro do Lampião e de Meiembipe está em xeque. Segundo O Eco, especialistas rebatem as conclusões do documento e afirmam que esse é um retrocesso nacional inédito em favor da especulação imobiliária para desproteger as áreas. Ao contrário do que alegam os vereadores, a criação de UCs por decreto não é ilegal, houve consultas públicas e não á registro de conflitos com comunidades tradicionais
📙 Cultura
“Ainda tem muita luta pela frente quanto à valorização da nossa arte. Parece mentira, mas, às vezes, por pedir o mínimo, somos colocadas como chatas ou ingratas”, afirma a drag queen Bhelchi, vivida pelo professor de ballet, jazz, coreógrafo e designer de moda Jonathan Freitas. A artista participou da segunda temporada do “Drag Race Brasil” e foi a última eliminada antes da final. Ficou conhecida no reality por ter criado sozinha todos os looks que usou. “Ao mesmo tempo que é gratificante fazer um guarda roupa completo para um programa desse porte, é um desafio lidar com a quantidade, tempo, regras e dinheiro.” Em entrevista à Revista O Grito!, Bhelchi fala sobre os desafios da arte drag no Brasil. Com nome artístico inspirado no cantor Belchior, ela citou os versos da música “Alucinação” em sua saída do programa. “Belchior escreveu e cantou sobre a vida, e arte para mim é isso, falar sobre sua verdade, sobre o que te toca, transmitir suas emoções, ainda que não seja vendável. Mostrar nossa singularidade, e isso ele fez lindamente.”
🎧 Podcast
“Estou tentando mostrar para os mais novos que precisam valorizar o nosso território, porque eles [seus ancestrais indígenas] lutaram por nós e agora nós temos que manter”, afirma o escritor e pesquisador Yamaluí Kuikuro Mehinaku. No “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, ele conversa com a escritora Rita Carelli sobre “Dono das Palavras: A História do Meu Avô”, obra bilíngue – em português e em kuikuro – em que narra a trajetória de seu avô, Nahũ Kuikuro, liderança que atuou na criação do Parque Indígena do Xingu, no Mato Grosso. “Eu esperei muito o branco contar a história dele [Nahũ], só que ninguém contou.” Yamaluí relata a decepção com a invisibilidade de Nahũ no filme “Xingu”, de Cao Hamburger. “Vi ele aparecer só no finalzinho, por 20 segundos. Saí do filme triste. As pessoas que lutaram com meu avô não foram homenageadas.”
👩🏽💻 Tecnologia
A inteligência artificial generativa e os agentes de IA são a prioridade tecnológica das empresas brasileiras para 2026, segundo a pesquisa IDC Enterprise Survey Brazil, que ouviu 86 executivos de companhias de diferentes vertentes, como finanças, varejo, telecom, utilities, manufatura e saúde. O Mobile Time reúne os principais achados do levantamento: 67% dos respondentes concordam com a afirmação de que suas empresas já passaram da fase de experimentação e estão efetivamente aplicando IA generativa nos negócios, e 75% afirma que a IA generativa permitiu criar novos produtos e receitas para suas empresas. No entanto, a maioria não tem certeza ou não sabe como medir de forma eficiente o retorno sobre o investimento dessas iniciativas.