Os atletas periféricos em Paris e os desafios das blogueiras negras
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🔸 No primeiro fim de semana das Olimpíadas, o Brasil faturou três medalhas: duas no judô (bronze e prata) e uma no skate (bronze). Nesta modalidade, o feito foi da maranhense Rayssa Leal, que conquistou a segunda medalha olímpica de sua carreira – aos 16 anos. Tornou-se, assim, a atleta mais nova a conquistar medalhas em duas Olimpíadas diferentes (a primeira foi em Tóquio, em 2021). A Alma Preta conversou com a skatista logo depois da vitória em Paris. “Só de ser inspiração para mim já é muito gratificante, sabe? Ainda mais sabendo que muitas mulheres negras, querendo ou não, passam por preconceito na infância e até já na vida adulta. Então eu me sinto muito honrada, porque a força que nós temos é diferente”, afirmou. Rayssa revelou ainda o que escutava no fone de ouvido durante a competição.
🔸 Na ginástica artística feminina, as atletas garantiram vagas para as finais, depois da estreia ontem no classificatório. As brasileiras tiveram a quarta maior pontuação e vão disputar na prova por equipes, mas não só. O Metrópoles destaca o desempenho de Rebeca Andrade – ela vai disputar quatro medalhas (individual geral, trave, solo, salto), além da prova por equipe. Em Tóquio, quando conquistou a medalha de prata, ela se tornou a primeira mulher do país a ter uma medalha olímpica na ginástica artística. Na ocasião, o Nexo lembrou a trajetória da ginasta, que nasceu em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Filha de empregada doméstica, Rebeca cresceu numa casa de um cômodo que dividia com a mãe e oito irmãos.
🔸 No futebol feminino, o Japão virou o jogo contra o Brasil nos acréscimos. Num primeiro tempo equilibrado, como narra o Esporte News Mundo, nenhum dos times marcou. Já no segundo tempo, Jheniffer abriu o placar e, embora a seleção tenha segurado a vitória no tempo regulamentar, as japonesas marcaram o gol do empate aos 46 minutos. A virada foi aos 50 minutos. O time volta a campo na quarta, contra a Espanha.
🔸 O Brasil é o segundo país com mais atletas LGBTQIA+ nos Jogos de Paris. São 24, o dobro do que a delegação apresentou em Tóquio. Os Estados Unidos lideram o ranking, com 29 de um total de 155 atletas LGBTQIA+ que os países levaram à França. A Agência Diadorim lista quem são os brasileiros LGBTQIA+ disputando esta edição. Há histórias de atletas que, inclusive, se conheceram nas Olimpíadas. É o caso da velocista Ana Carolina Azevedo, que estará nos jogos ao lado da noiva, a boxeadora Bia Ferreira – elas se conheceram na Vila Olímpica do Japão.
🔸 Ainda as Olimpíadas: Paris quer ser a sede mais sustentável da história dos jogos. A começar pela redução pela metade da pegada de carbono dos Jogos Olímpicos, em comparação com Londres 2012 e Rio 2016. Para compensar as emissões, haverá, por exemplo, o plantio de uma nova floresta na região metropolitana de Paris. Houve ainda a despoluição do rio Sena, a criação de pódios feitos com plástico 100% reciclado e a decisão de não construir novas arenas esportivas. O Colabora enumera dez ações do comitê organizador que podem render a Paris o pódio da sustentabilidade.
📮 Outras histórias
Dos 276 atletas que o Brasil levou a Paris, 49 são da Grande São Paulo e das periferias. Eles estão espalhados em diversas modalidades, como conta a Agência Mural. No ciclismo BMX freestyle, por exemplo, está Gustavo Bala Loka, que cresceu em um bairro de Cohab em Carapicuíba. Bianca Silva e Gisele Gomes, duas atletas do rugby sevens feminino, são de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. No skate, o Brasil tem Raicca Ventura, de São Bernardo do Campo, e Giovanni Vianna, de Santo André. A reportagem traz uma lista de atletas periféricos para acompanhar nas Olimpíadas.
📌 Investigação
Dificuldades para acessar a assistência estudantil e problemas na organização logística de oferecimento de refeições do Restaurante Universitário (RU) têm levado estudantes da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (Uesb), em Vitória da Conquista, à insegurança alimentar. “Existem alunos que vão em ‘página de fofoca’ da universidade pedir cestas básicas porque não estão se alimentando adequadamente”, conta Felipe Souza Bonfim, estudante de Ciências Sociais. O Conquista Repórter ouviu universitários que denunciam as condições de funcionamento do RU. “A empresa responsável está há um ano dentro da Uesb e não consegue fazer uma estimativa segura de quantas pessoas almoçam lá todos os dias. Há momentos em que a comida acaba antes de todos serem servidos”, relata Iasmin Andrade, membro do Centro Acadêmico do curso de História.
🍂 Meio ambiente
Em encontro com autoridades de países do Norte Global, os ministros Fernando Haddad (Fazenda) e Marina Silva (Meio Ambiente) apresentaram uma proposta para a criação de um fundo global bilionário para conservação de florestas tropicais. A ideia é remunerar os países pela preservação desses biomas. O Reset teve acesso ao documento, que estima uma captação de cerca de R$ 700 bilhões. Pela proposta, países ricos, organismos multilaterais e investidores aplicariam dinheiro num portfólio de investimentos. O rendimento obtido seria usado para pagar algumas nações pela preservação das florestas.
📙 Cultura
“No meu entender, quem escreve deve observar a vida, o seu entorno e mais além. Este exercício não pode ser feito com ansiedade, com pressa. Ele é constante e faz parte de nós, escritores e escritoras”, afirma Eliana Alves Cruz, escritora, roteirista, jornalista e apresentadora do programa “Trilha de Letras”, da TV Brasil. Ao Le Monde Diplomatique Brasil a vencedora do Prêmio Jabuti 2022 fala sobre a construção das suas obras e a importância da observação para a criação literária: “Minha literatura se baseia em perguntas. Todos os livros que escrevi têm grandes questionamentos por trás. Não tenho a pretensão de responder definitivamente a nada, mas fazer as perguntas certas, na minha opinião, é o segredo tanto para uma boa literatura quanto para um bom trabalho no jornalismo”.
🎧 Podcast
Diante da alta taxa de suicídios entre indígenas, é necessário adaptar o campo da psicologia ao contexto dos povos originários. Um passo dessa adaptação aconteceu no ano passado, quando o Conselho Federal de Psicologia publicou o documento “Referências Técnicas para Atuação de Psicólogos Junto aos Povos Indígenas”, com informações sobre conhecimento cultural, envolvimento da comunidade e respeito por práticas tradicionais de cura. O “Olho d’Água”, produção da Amazônia Latitude, conversa com a psicóloga Vanessa Terena, membro da Articulação Brasileira de Indígenas Psicólogos, e com Raquel Wapichana, do Departamento da Juventude do Conselho Indígena de Roraima, para entender a situação da saúde mental de jovens indígenas.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Mesmo em um cenário comercial digital de desigualdade e desfavorável, mulheres negras tentam revolucionar as redes sociais por meio de conteúdos diversos, com temas que vão desde beleza e rotina até esquetes de humor. A revista AzMina mostra do que falam as blogueiras negras que criam conteúdos para além dos estereótipos. Segundo a pesquisa Creator e Negócios de 2022, realizada pela Brunch e YOUPIX, 63,4% dos criadores de conteúdo no país são mulheres e 30,6% são pessoas negras, a maioria concentrados no Sudeste. “É mais fácil falar que não existe pessoa preta produzindo determinado conteúdo, mas nós estamos nos mais diversos nichos que vocês imaginarem”, afirma Bruna Dias, assessora e blogueira sobre autoestima e cabelo do “Dias de Cacho” no Instagram.