Os ataques ao ministro Alexandre de Moraes e a família de Amarildo
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🔸 Um grupo de brasileiros hostilizou o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, e seus familiares no aeroporto internacional de Roma, na Itália. Um empresário chegou a desferir um golpe no rosto do filho de Moraes. O Nexo conta que, segundo a Polícia Federal, a esposa do empresário chamou o ministro de “bandido”, “comunista” e “comprado”. “Até quando essa gente extremista vai agredir agentes públicos, em locais públicos, mesmo quando acompanhados de suas famílias?”, questionou, no Twitter, o ministro da Justiça, Flávio Dino. Em nota, como mostra O Antagonista, o casal Roberto Mantovani Filho e Andréa Munarão classificou o episódio como um “mal entendido”.
🔸 Na empreitada de Arthur Lira (PP-AL) contra veículos de comunicação que publicaram reportagens sobre ele nas últimas semanas, o juiz Jayder Ramos de Araújo, da 10ª Vara Cível de Brasília, determinou a retirada do ar de uma entrevista concedida ao Congresso em Foco por Julyenne Lins Rocha, ex-mulher do presidente da Câmara, que o acusa de violência sexual e doméstica. Lira cobra, como indenização por danos morais, R$ 100 mil da sua ex-esposa e outros R$ 100 mil do UOL, parceiro comercial e provedor de hospedagem do Congresso em Foco. Em tempo: antes de publicar a entrevista, a reportagem procurou o deputado para que se manifestasse a respeito das declarações da ex-mulher. A resposta foi que ele não comentaria o assunto.
🔸 “A forma dos ataques, as armas utilizadas, o sentido de missão e as referências a personagens e locais se referem ao universo dos jogos.” Este é um trecho do relatório recebido pelo grupo de trabalho criado pelo governo Lula para combater a violência nas escolas. O texto mostra que o uso da cultura gamer é central nos ataques a escolas, informa o colunista Guilherme Amado, no Metrópoles. Segundo o relatório, o ambiente não serviu apenas para atrair jovens, mas para treiná-los a cometerem atos extremistas.
🔸 “Burra”, “analfabeta” e “boçal” são alguns dos termos usados nas redes para atacar a senadora Eliziane Gama (PSD-MA), desde que ela assumiu a relatoria da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) dos atos de 8 de janeiro. Levantamento feito pela Lupa em parceria com a Escola de Comunicação, Mídia e Informação (ECMI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostra que, desde a instalação da CPMI, em 25 de maio, até o dia 11 de julho, data da sessão mais recente, o nome de Eliziane foi mencionado 35.100 vezes no Twitter. O número é 171% superior ao de citações ao presidente da Comissão, deputado Arthur Maia (União-BA).
🔸 Na internet, as buscas sobre como funcionam as abordagens policiais indicam que a população ainda desconhece direitos e deveres quando se trata da atuação dos agentes públicos. A Ponte selecionou as principais perguntas buscadas para responder o que pode e o que não pode no enquadro, como é conhecida popularmente a abordagem. Aliás, a abordagem é diferente da revista pessoal: a primeira se refere apenas ao contato e aproximação do policial a uma pessoa, enquanto a segunda diz respeito ao ato de revistar o corpo e os pertences. O policial pode abordar qualquer cidadão, mas não pela forma como se veste, pela cor da pele ou pela região onde mora.
📮 Outras histórias
“Cadê os restos mortais do meu pai?” Se Anderson Dias, de 31 anos, pudesse fazer apenas uma pergunta à polícia do Rio de Janeiro seria esta. Anderson é filho do pedreiro Amarildo Dias de Souza, de 43 anos, sequestrado no dia 14 de julho de 2013 por policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na porta de casa, na favela da Rocinha. Amarildo foi torturado e morto, mas seu corpo nunca foi encontrado. O Maré de Notícias conta que a família do pedreiro vive em dificuldades financeiras. O advogado do caso, João Tancredo, afirma que apenas na semana passada a 5ª Vara de Fazenda Pública determinou a intimação do Estado para pagar a indenização. “Não tem nem como trabalhar, eu e meus irmãos fazemos bico dentro da comunidade, mototaxi, motoboy (…). O Estado, além de matar nosso pai, agora quer matar a gente de fome”, afirma Anderson.
📌 Investigação
Professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Evson Malaquias, do Centro de Educação, recebeu, no último dia 5, a notícia de que está suspenso por 60 dias, sem direito a receber os salários desse período. Segundo a Marco Zero, os conflitos com a instituição começaram, quando, no segundo semestre de 2021, o docente propôs mudar o nome do auditório do departamento onde atua. O espaço faz uma homenagem ao professor e pesquisador Carlos Frederico Maciel, primo do ex-vice-presidente Marco Maciel e irmão do ex-reitor da UFPE nos tempos da ditadura, Paulo Frederico Maciel. A proposta de Malaquias surgiu durante sua pesquisa sobre a repressão militar na universidade, ao descobrir a atuação de Carlos Maciel no regime. Documentos do Arquivo Nacional evidenciam o empenho do homenageado em desmantelar o legado de Paulo Freire e do Movimento de Cultura Popular na instituição.
🍂 Meio ambiente
Desenvolver a bioeconomia na Amazônia é um dos desafios do governo Lula, que além da criação Secretaria Nacional da Bioeconomia, do Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, tem outras nove pastas que abordam o tema. A InfoAmazonia explica que uma das questões envolvendo a bioeconomia é o próprio conceito, com amplas definições, desafiando a consolidação de uma política nacional. Existem ao menos três linhas: a sociobiodiversidade, a bioeconomia de base florestal e a bioeconomia de commodities. As atividades econômicas centradas no uso sustentável dos recursos naturais podem ter diversas iniciativas, desde as que envolvem o trabalho de ribeirinhos e indígenas, com coleta e produção agrícola, até aquelas que trazem a presença de grandes empresas.
Em áudio: “o garimpo é um problema sistêmico e de múltiplas escalas”, afirma a antropóloga Luísa Molina, que dedicou os últimos quatro anos a entender o avanço do garimpo em terras indígenas na Amazônia e os seus impactos e participou das publicações “O Cerco do Ouro: Garimpo Ilegal, Destruição e Luta em Terras Munduruku”, de 2021, e “Terra Rasgada: Como Avança o Garimpo na Amazônia Brasileira”, de 2023. No “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, Molina explica as mudanças que a atividade sofreu nas últimas décadas, com maior capacidade tecnológica de produção e destruição, além da necessidade de diferenciar os trabalhadores cooptados pelo garimpo e os empresários que o controlam.
📙 Cultura
Exposição no MASP reúne 109 trabalhos do artista yanomami Sheroanawe Hakihiiwe, de comunidade localizada no município de Alto Orinoco, na Amazônia venezuelana. Suas obras, marcadas por desenhos delicados, símbolos coloridos e texturizados, trazem uma visão contemporânea da cosmogonia e do imaginário dos povos Yanomami. O artista utiliza tintas vegetais fabricadas artesanalmente, extraídas de folhas, frutas, animais e madeiras. Segundo a Escotilha, a mostra “Sheroanawe Hakihiiwe: Tudo Isso Somos Nós” faz parte da programação anual do MASP dedicada a histórias indígenas.
Criador e mantenedor do Museu Histórico de Canudos (BA), Manoel Alves, conhecido como Manoel Travessa, foi peão na construção de barragens, fabricante e vendedor de canoas para pescadores e vereador por cinco mandatos, deixando de se eleger apenas quando a candidatura de analfabetos foi proibida. Travessa morreu no último dia 10, aos 82 anos. A notícia de sua morte chegou com três dias de atraso, por meio de uma publicação no Instagram, em que a jornalista Socorro Araújo presta sua homenagem e relata preocupação com o futuro do museu. O Meus Sertões lembra que o acervo reunido por Travessa traz projéteis, armas, cartucheiras e objetos do Exército onde a Guerra de Canudos aconteceu. “O espaço, pequeno e meio caótico, serviu de inspiração para o museu de Bacurau”, escreveu Araújo na rede social.
🎧 Podcast
O mate gelado comum nas praias do Rio de Janeiro foi registrado como Patrimônio Cultural Imaterial da capital fluminense em 2012, está presente no famoso chimarrão no Sul e atravessa toda a história do país. A erva faz parte de um ritual sagrado do povo Guarani Mbya, em que se fortalecem e recebem as mensagens dos líderes espirituais. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, narra o percurso histórico da planta, que, da herança indígena, foi apropriada para se tornar uma bebida ultraprocessada comercializada pela Coca-Cola.
✊🏽 Direitos humanos
As ações para a primeira infância tiveram um aumento de 38,3% nos investimentos do governo federal em 2023. São mais de R$ 27 bilhões distribuídos para projetos de diversos ministérios voltados a essa fase da vida. Também foi sancionada a Lei 14.617/2023, que institui agosto como o Mês da Primeira Infância, com políticas de conscientização sobre a importância da atenção integral desde a gestação até os seis anos de idade. Ao Lunetas o advogado do Instituto Alana – ONG voltada para a defesa de crianças e adolescentes – Pedro Mendes afirma também a necessidade de envolver estados e municípios nas ações: “Para garantir os direitos das crianças na primeira infância, é preciso a movimentação de toda a máquina estatal e de todos os atores sociais”.