Os ataques da milícia no Rio e sete sinais da crise climática no país
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🔸 Trinta e cinco ônibus e um trem foram incendiados ontem, no Rio de Janeiro, no fim da tarde, horário em que trabalhadores usam o transporte público para retornar às suas casas. Em alguns casos, os veículos estavam com passageiros, e eles precisaram desembarcar às pressas para escapar do fogo, como mostra em vídeo o Metrópoles. Os ataques ao transporte público se concentraram na zona oeste, área de forte atuação de grupos milicianos e, segundo o governo, foram uma resposta à morte de Matheus da Silva Rezende, o Faustão, um dos líderes da maior milícia do estado. No Instagram, o Instituto Fogo Cruzado explica que o jovem era o “número 2” do miliciano mais procurado do Rio, Zinho.
🔸 Aos 24 anos, o miliciano Faustão era investigado por pelo menos 20 mortes, informa a CartaCapital. Em setembro, foi denunciado pelo Ministério Público como um dos suspeitos pelo assassinato de Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, que foi vereador na capital fluminense entre 2000 e 2008 e fundador da milícia privada conhecida como Liga da Justiça. O governador do Rio de Janeiro, Claudio Castro, definiu os ataques a ônibus como “ações terroristas” e disse esperar que Zinho seja preso nas “próximas horas”.
🔸 Em São Paulo, um aluno entrou armado numa escola, matou uma estudante e feriu outros três. O autor dos disparos frequentava o 1º ano do Ensino Médio na Escola Estadual Sapopemba, na zona leste da capital. Este é o oitavo ataque a uma escola no Brasil somente neste ano. A partir de conversas com especialistas que estudam casos de ‘mass shooting’ (tiroteio em massa) no Brasil e nos Estados Unidos, a Lupa criou um guia para lidar com esse tipo de violência. Uma instrução rápida: não dê fama ao atirador e proteja as vítimas.
🔸 Do ano 2000 até 2022, o Brasil contabilizou ao menos 16 ataques a escolas, segundo relatório do Gabinete de Transição do governo federal. Em artigo no Lunetas, Gabriel Salgado, coordenador de educação no Instituto Alana, afirma que o número expressivo de casos está relacionada à cultura de nossos tempos, “em que os discursos de ódio e as violências simbólicas e concretas têm circulado livremente e sido usados como ferramenta política”. Para ele, “a prevenção à violência passa obrigatoriamente pelo combate aos discursos de ódio, ao racismo, ao machismo, à homo, bi e transfobia, à intolerância religiosa e a outras variadas formas de discriminação e violações aos direitos humanos”.
📮 Outras histórias
Cria da Rocinha, Jorge Gustavo Souza Rodrigues conquistou quatro pódios só em 2023. Aos 18 anos, Gustavinho, como é conhecido, já acumula títulos em campeonatos de bodyboard pelo Rio de Janeiro. O Fala Roça perfila o jovem atleta que mora na rua 2 e precisa descer todos os dias os becos na favela na zona sul da capital para chegar ao “costão”, no canto esquerdo da Praia de São Conrado. “Não tem segredo para conquistar esses resultados. É só treinar, treinar e treinar”, diz o jovem, que se inspirou no próprio pai, Jorge Ricardo Souza dos Santos, surfista há 25 anos.
📌 Investigação
Empresa de espionagem isralense, a Cognyte é investigada pela Polícia Federal pelo uso de ferramentas de monitoramento virtual, um serviço contratado pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). A Agência Pública revela que o órgão não é o único do setor público brasileiro a contratar a companhia. Nos últimos cinco anos, foram mais de R$ 57 milhões contratos públicos, incluindo a Polícia Rodoviária Federal (PRF) na gestão do bolsonarista Silvinei Vasques e setores das Forças Armadas, como a Força Aérea e o Exército, além de nove governos estaduais – Goiás, São Paulo, Amazonas, Mato Grosso, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pará, Espírito Santo e Alagoas.
🍂 Meio ambiente
Os últimos nove anos foram os mais quentes dos últimos 12 mil – e 2023 deve superar todos os recordes já catalogados por cientistas. O Projeto Colabora reúne uma série de evidências e análises sobre o aumento da temperatura do planeta e os desastres climáticos frequentes, além dos que marcaram o ano. Um dos pontos mais preocupantes é o degelo na Antártica e no Ártico, essenciais para o equilíbrio do sistema climático. Os polos perderam neste ano 4,49 milhões de quilômetros quadrados, área equivalente aos territórios da Índia, Paquistão, Bangladesh, Nepal e Butão somados.
A propósito: no Brasil, o ano registrou chuvas sem precedentes no Sul e seca histórica na Amazônia. A revista piauí lista sete sinais da crise climática no país. Em setembro, o total de chuva registrado na estação meteorológica convencional de Belém (PA) foi de 32,7 milímetros, o equivalente a 27% da média histórica de 120,1 milímetros, enquanto Porto Alegre (RS) registrou 447,3 milímetros de água, o triplo da média histórica de 147,8 milímetros. Desde 2019, 40% dos municípios brasileiros declararam estado de emergência como resultado de eventos climáticos extremos, como tempestades, inundações, enxurradas ou alagamentos
📙 Cultura
“Eu quis escrever uma Antonieta por dentro.” A pedagoga Jeruse Romão lançou seu segundo livro sobre Antonieta de Barros, catarinense que esteve entre as três primeiras deputadas eleitas no país, sendo a única negra, em 1934. Em “Antonieta de Barros: Discursos, Entrevistas e Outros Textos”, Jeruse busca trazer uma visão íntima da vida da parlamentar e desconstruir alguns mitos da branquitude sobre ela, como explica ao Portal Catarinas. “É um equívoco comum acreditar que Antonieta não abordou a questão racial. As pessoas costumam enfatizar que Antonieta era negra, que ela não havia flexionado raça como parte de sua identidade. O que vejo nos seus textos revela o contrário.”
Indígena do povo Kokama, Cida Aripória é uma das pioneiras do rap na Amazônia. Nascida na periferia de Manaus, Cida buscou sua origem étnica a partir do engajamento com o hip hop e com movimentos sociais com discussões raciais. O Nonada conversa com a artista, que lançou seu primeiro no ano passado, quando Cida completou 20 anos de caminhada na cena. “Esse EP tem o nome de originária devido a minha ancestralidade indígena do povo Kokama, minhas inspirações são as minhas antepassadas indígenas. Existe um mix de tudo, desde a vivência periférica tradicional indígena até o street”, afirma.
🎧 Podcast
Colaboradora do Observatório da Discriminação Racial no Futebol, a assistente social Roberta Pereira Silva mergulhou no acesso da população ao futebol moderno – das arenas e das transmissões em streaming – e conta como o esporte se mantém vivo nas classes populares por meio da várzea. O “Guilhotina”, produção do Le Monde Diplomatique Brasil, recebe a pesquisadora para abordar o tema e também trazer as principais ideias de seu livro “Campo de Terra, Campo da Vida: Alternativas de Resistência Negra e o Negritude Futebol Clube”.
✊🏽 Direitos humanos
Reivindicação do movimento LGBTQIA+ desde 1992, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vai incluir, pela primeira vez, questões relacionadas à identidade de gênero e orientação sexual na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde de 2023. Segundo a Agência Diadorim, o mapeamento começou no dia 9 de outubro e está programado para visitar cerca de 133 mil domicílios em mais de 2.500 municípios. A partir de agora, os participantes da pesquisa podem selecionar sua identidade de gênero entre as categorias de mulher, mulher trans, homem, homem trans, travesti, não binário ou “outro”.