Os ataques à Marina Silva no Senado e as denúncias de racismo na Embraer
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🔸 A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, abandonou uma audiência no Senado após ser alvo de uma série de ataques. O senador Plínio Valério (PSDB-AM), por exemplo, chegou a dizer: “A mulher merece respeito; a ministra, não”. Segundo O Eco, o debate na Comissão de Infraestrutura do Senado tratava do PL 2.159/2021, que flexibiliza o licenciamento ambiental. Também estava na pauta a criação de reservas marinhas na Foz do Amazonas – alvo de críticas de senadores, incluindo alguns do PSD, partido da base do governo. Eles alegam que as reservas prejudicam projetos de infraestrutura e exploração de petróleo na região. A ministra, por sua vez, nega que as unidades de conservação impeçam essas atividades e afirma que estão a até 400 km dos blocos de exploração. Destacou que, com ou sem reservas, é obrigatório o licenciamento ambiental. Após a audiência, ela se reuniu com o presidente da Câmara, Hugo Motta, pedindo que o PL 2.159 passe por debate com a sociedade antes de ser votado.
🔸 Em vídeo: “Me respeite, se ponha no seu lugar”, disse o senador bolsonarista Marcos Rogério (PL-RO), presidente da Comissão de Infraestrutura do Senado. Pouco depois, Marina Silva deixou a audiência. O Metrópoles mostra o momento em que ela ouve e responde aos ataques do parlamentar. “O senhor gostaria é que eu fosse uma mulher submissa, eu não sou”, afirmou a ministra.
🔸 Em tempo: o PL do licenciamento ambiental ganhou uma emenda de última hora que revoga dispositivos centrais da Lei da Mata Atlântica. Assinada pelo senador Jayme Campos (União-MT), a emenda permite a supressão de vegetação nativa em áreas de regeneração sem a autorização prévia dos órgãos ambientais federal e estaduais. A Agência Nossa explica que a medida enfraquecerá a proteção de um dos biomas mais desmatados do país. “[A emenda] Impacta justamente os 12% do que resta da cobertura original da Mata Atlântica, responsável por serviços ambientais essenciais, como a segurança hídrica, climática, a biodiversidade e o bem-estar da população. É uma distorção sem precedentes que leva o Brasil na contramão do Acordo de Paris e potencializa tragédias climáticas”, avalia Malu Ribeiro, diretora de políticas públicas da SOS Mata Atlântica.
🔸 “Quando vejo um ministro do STF sambando na casa de um litigante na Corte, ele sinceramente não me parece imparcial – para não dizer outra coisa.” Doutor em Ciência Política, Cássio Casagrande se refere à presença de Luís Roberto Barroso, presidente do Supremo Tribunal Federal, na casa do CEO do iFood, Diego Barreto. Em artigo no Jota, Casagrande lembra que o STF julgará em breve o tema que trata da relação de trabalho entre motoristas e entregadores de aplicativo e empresas como Uber e iFood, “decisão que poderá trazer impacto evidente para os lucros da companhia”. “Penso que a presença foliã do presidente do STF no regabofe empresarial é uma grande falta de compostura judiciária, e que tal fato inviabiliza sua participação no julgamento da repercussão geral referida, por absoluta suspeição”, afirma o cientista político.
🔸 Depois de denunciarem casos de racismo, assédio moral e sexual na Embraer, ex-funcionários negros da Empresa Brasileira de Aeronáutica foram demitidos. Eles agora movem ações na Justiça do Trabalho. A Alma Preta revela que os três trabalhadores fizeram denúncias por meio da plataforma interna Helpline, mas, segundo eles, a empresa falhou em garantir acolhimento, confidencialidade e investigação justa. “Ele [o gestor] perguntava sobre a minha vida sexual com o meu namorado e detalhes do meu relacionamento. Comentava sobre minhas características como mulher negra, sobre meus lábios, meu nariz, o meu corpo e principalmente meu cabelo”, conta uma ex-funcionária, demitida por justa causa. Em todos os casos, os denunciados receberam advertências brandas, enquanto os denunciantes foram desligados.
📮 Outras histórias
Em respeito aos preceitos do candomblé, Gleidiane Mascena de Assis foi a primeira estudante da Universidade Federal de Sergipe (UFS) a colar grau com uma beca branca. Iniciada como Ìyàwó de Exú, a pedagoga travou uma batalha com a universidade, que inicialmente negou seu pedido alegando falta de previsão legal. A Mangue detalha o caso e conta que, com apoio de professoras e colegas, ela conseguiu que a pró-reitoria de graduação revisasse o entendimento e permitisse a quebra de protocolo. Aos 33 anos, Gleidiane subiu ao palco acompanhada da filha e dos sobrinhos, reverenciando seu orixá antes de receber o diploma. Assim, rompeu com o cerimonial universitário tradicional, fundado em ritos eclesiásticos de origem europeia. “Eu não ando sozinha. Que este seja um passo para todo o nosso povo, para que haja garantia de diversidade e respeito para todo mundo”, diz a recém-formada.
📌 Investigação
Aliados próximos do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD-MG), passaram a atuar no setor de mineração em Minas Gerais depois que ele assumiu o ministério, em 2023. Seu primo Cláudio Lúcio Silveira Júnior e seu advogado José Júlio Costa Neto já tiveram negócios com Silveira no ramo imobiliário e passaram a atuar no setor minerário. A Agência Pública apurou que empresas geridas ou fundadas por eles receberam autorizações da Agência Nacional de Mineração (ANM), vinculada à pasta, para exploração mineral em cidades estratégicas como Ouro Preto, Caratinga e Guarda Mor. A atuação de Silveira e dos envolvidos tem sido alvo de questionamentos éticos. O ministro já foi investigado por beneficiar o próprio primo em negócios anteriores e teve seus bens e empresas avaliados em R$ 79,1 milhões. Apesar das ligações, o ministério nega qualquer conflito de interesse.
🍂 Meio ambiente
“No oeste do Pará – estado que irá sediar a Conferência do Clima da ONU em novembro – povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais já conhecem de perto a fragilidade na aplicação e fiscalização dos processos de licenciamento ambiental. Ainda assim, é esse instrumento que, até agora, tem funcionado como uma barreira mínima contra a devastação de seus territórios e a natureza. Com flexibilização das regras, o cenário do futuro é de ainda mais destruição, avanço de empreendimentos sob territórios tradicionais, intensificação de conflitos territoriais e violação de direitos.” Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, a assessora jurídica Selma Corrêa e a jornalista Lanna Paula Ramos analisam como o projeto de lei que flexibiliza o licenciamento ambiental, aprovado pelo Senado, agrava ainda mais a destruição dos biomas e a violação dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais.
📙 Cultura
A arte tem transformado a experiência da população que vive nas ruas de São Paulo. É o caso de Darcy Costa, que esteve nas ruas por três anos e, a partir da vivência artística, experimentou uma melhora na autoestima e na autonomia. Foi essa transformação que o levou a construir o Centro de Integração Social pela Arte, Trabalho e Educação (Cisarte), espaço dedicado ao acolhimento e à reinserção social das pessoas em situação de rua por meio da arte, com oficinas diárias que recebem entre 140 e 200 pessoas. O Nonada narra as histórias de pessoas que encontraram refúgio nas expressões artísticas. “Eu quero que as pessoas conheçam quem eu sou de verdade. Quem eu sou agora: uma mulher cheia de sonhos e cheia de vontade de viver. A arte de antes era obscura. A de agora é ampla. Se deixar, eu colo até borboleta no meio”, afirma a artista Gleice Cassiane de Castro.
🎧 Podcast
Esquecida por décadas, a escritora estadunidense Eve Babitz tem conquistado uma nova geração de leitores com suas crônicas sobre a cidade de Los Angeles dos anos 1970, que retratam seu olhar no convívio com estrelas de Hollywood. O “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, recebe a jornalista, editora e curadora Adriana Ferreira Silva e a jornalista, escritora e tradutora Cecília Madonna Young para falar sobre a obra de Babitz. Em fevereiro deste ano, a tradução “Dias Lentos, Encontros Fugazes”, feita por Young, se tornou o primeiro livro da autora norte-americana a chegar ao Brasil. “Eu descobri a Eve porque tem toda essa coisa que ela e a Joan Didion são amigas e inimigas, todo um drama. E eu fiquei obcecada porque ela era uma mulher muito genial e à frente do seu tempo, escrevendo umas coisas muito doidas e inteligentes”, afirma Young.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Enquanto homens têm maior risco de agressões nas ruas em dias de jogos de futebol, as mulheres são vítimas de violência doméstica. Uma pesquisa do Instituto Avon, em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, mostra que quando há partidas do Campeonato Brasileiro, as ameaças contra mulheres aumentam 23,7%. Nos dias de jogos do time da cidade joga em casa, os casos de agressão física registram sobem para 25,9%. O Nós, Mulheres da Periferia reúne os dados da violência de gênero associada ao futebol e como o esporte também reforça padrões culturais de masculinidade que naturalizam comportamentos agressivos.