O ataque numa escola em SP e uma plataforma de streaming em Libras
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 “Ele e o menino começaram a brigar porque ele chamou o menino de preto, macaco. O menino não gostou e partiu para cima dele. Aí a Beth, que é a professora, separou. Hoje, esse menino que chamou o outro de macaco veio com uma faca e esfaqueou várias vezes.” O depoimento de um aluno mostra que o racismo estaria relacionado à tragédia que ocorreu ontem na escola estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Um adolescente de 13 anos matou a professora Elisabeth Tenreiro, de 71 anos, e feriu outras quatro pessoas. Ao Notícia Preta a educadora que idealizou e coordena a Rede de Professores Antirracistas, Lavini Castro, lembra a importância da educação antirracista como forma de reconhecer a pluralidade do povo brasileiro.
🔸 Tragédia anunciada. Um mês antes do atentado, a direção da escola alertou a polícia sobre o “comportamento suspeito” do estudante, que vinha “postando vídeos comprometedores como, por exemplo, portando arma de fogo, simulando ataques violentos”. Ele mesmo afirmou ter tentado comprar uma arma na internet ao longo dos últimos dois anos, enquanto planejava o atentado. À polícia ele disse que se inspirou nos massacres de Suzano, na Grande São Paulo, em 2019, e de Columbine, nos Estados Unidos, em 1999. O Metrópoles teve acesso ao depoimento do adolescente que disse sentir tristeza “há muitos anos” e contou que passou a ter ideias “de se vingar” com o intuito de “acabar com toda a angústia que sentia.”
🔸 A propósito: episódios de ataques em escolas têm se tornado mais frequentes no Brasil. Um relatório feito pelo governo de transição no final do ano passado contabilizou 35 mortes de estudantes e professores e 70 feridos em atentados em escolas brasileiras desde o ano 2000. Foram 16 ataques em duas décadas – quatro deles aconteceram na segunda metade de 2022, como informa o podcast “Durma com Essa”, produção do Nexo.
🔸 O PL quer reforço na segurança na área do Aeroporto de Brasília nesta quinta-feira, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro retorna ao Brasil. Segundo a CartaCapital, o partido enviou o pedido em ofício ao governador Ibaneis Rocha (MDB), ao ministro Flávio Dino (PSB) e ao diretor-geral da Polícia Federal Andrei Passos. Bolsonaro partirá de Orlando, nos Estados Unidos, onde está desde a última semana de dezembro de 2022. Enquanto o PL prepara um evento de apoiadores para seu desembarque, o Estadão revela que o ex-presidente teria recebido um terceiro conjunto de joias da Arábia Saudita. O Portal Terra informa que o presente incluiu um relógio da marca Rolex, de ouro branco e cravejado de diamantes. O conteúdo está avaliado em R$ 500 mil.
🔸 Durante o governo Bolsonaro, mais de mil perfis foram bloqueados pela Presidência da República nas redes sociais. A Fiquem Sabendo mostra que a maior parte dos bloqueios feitos pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República foi no Facebook. Não foi possível, porém, ter acesso aos nomes dos perfis bloqueados. O governo atual informou que estuda reverter os bloqueios feitos na gestão anterior.
📮 Outras histórias
Eleita deputada na Câmara Estadual de São Paulo, Ediane Maria do Nascimento cresceu vendo a mãe, dona Raimunda, trabalhar como empregada doméstica em Recife. Ela mesma seguiu aqueles passos: aos 18 anos, mudou-se para São Paulo para cuidar da família da ex-patroa de sua mãe. Ediane então interrompeu o curso magistério, acreditando que poderia concluir os estudos na capital paulista. “Cheguei no mês de março achando que iria achar um cenário maravilhoso e que no final do ano eu ia lá nas férias contar coisas boas. Mas não foi isso que aconteceu. O quarto da empregada é aquele lugar que silencia, que invisibiliza, e que te torna apenas mais um”, conta. O Nós, Mulheres da Periferia perfila a deputada que defende o direito à moradia e à cidade a partir das perspectivas de gênero, raça e classe.
📌 Investigação
“Ninguém escuta a comunidade. É tudo imposto.” Morador da Vila do Sahy, em São Sebastião, há três décadas, Valdemir Santos Cruz trabalhou no resgate de vítimas das fortes chuvas que deixaram 60 mortos no litoral norte de São Paulo, em fevereiro passado. Ele resume um problema recorrente na região: o poder público não considera as realidades e vínculos afetivos dos moradores com o lugar. A Ponte ouviu relatos de sobreviventes da tragédia e descreve o estado de vulnerabilidade emocional em que se encontram. “A cena era de horror. As pessoas tentavam correr, enquanto o rio de lama as arrastava. E a gente não podia sair da vila. De um lado, tinha o morro desabando. Do outro, tudo estava alagado. As ruas viraram rio”, diz Santos Cruz. A negligência do governo é anterior ao desastre deste ano: em fevereiro de 2021, a Prefeitura de São Sebastião foi condenada, em primeira instância, por “clara omissão” sobre a situação da comunidade, descrita como “uma verdadeira tragédia anunciada” pelos promotores Alfredo Luis Portes e Tadeu Salgado Ivahy, do Ministério Público Estadual de São Paulo.
🍂 Meio ambiente
Pelo menos 650 comunidades quilombolas sofrem impactos de grandes empreendimentos e projetos de infraestrutura no Brasil. O levantamento da Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq) mostra que os quilombos cercados por empresas têm seus modos de vida diretamente afetados pela destruição da biodiversidade, violações de direitos e problemas de saúde. A Alma Preta traz exemplos desses avanços sobre territórios tradicionais. As comunidades Turiaçu, Gonçalves e Vila dos Palmares, do Alto Acará, no Pará, vivem em conflito com a Agropalma, empresa produtora de dendê – que tem causado riscos à saúde dos moradores devido ao uso de agrotóxicos e ao derramamento de resíduos do óleo nos rios.
Em tempo: em carta endereçada a autoridades federais e estaduais e assinada por 125 entidades, o Fórum em Defesa das Populações Indígenas e Comunidades Tradicionais na Bahia cobra agilidade na regularização dos territórios de comunidades indígenas, quilombolas, ciganas, povos de terreiro, pescadores artesanais e marisqueiras, comunidades de fundo e fecho de pasto, geraizeiros e extrativistas. O Eco narra que, no sul do estado, as comunidades de Volta Miúda, Rio do Sul, Helvécia, Naiá, Mutum, Cândido Mariano, Vila Juazeiro e Mota sofrem com o monocultivo de eucalipto da empresa de celulose Suzano e pedem a consulta prévia, prevista na Convenção 169 da OIT e assinada pelo Brasil, além da paralisação das obras dentro de seus territórios.
📙 Cultura
Percussionista, artista plástico e capoeirista nascido em Pelotas (RS), Francisco Paulo Jorge Pinto, o Mestre Chico, dedicou cerca de 60 anos – de seus quase 70 – a vivenciar as tradições africanas e afro-brasileiras. Um dos únicos falantes de iorubá, quimbundo e lingala no estado, ele ensina outros mestres e crianças. O Nonada mergulha na história dele a partir de uma visita feita ao ponto de cultura que comanda, o Tambores de Angola, na Zona Norte de Porto Alegre. Mestre Chico afirma: “Os mestres e mestras são músicos e artistas, do canto, da dança, da culinária, da reza, das oferendas. Para ser um mestre, você não pode tocar sem orar. Orar é pedir a licença aos ancestrais. Como você vai tocar o seu tambor sem pedir licença aos ancestrais? Não tem valor o seu toque”.
Com o objetivo de dar oportunidades para artistas mulheres e anônimas no rap, o projeto As Minas no Mic abre espaço para que elas apresentem suas músicas. O evento acontece em dois sábados de abril (dias 1º e 15), nas Fábricas de Cultura de São Bernardo do Campo e Itaim Paulista, respectivamente. A revista O Grito! conta que a curadoria das MCs foi feita pela produtora executiva do encontro, Geovana de Souza, também fundadora do coletivo Guerreiras na Umild, criado para promover e dar visibilidade à cena feminina no hip-hop. “O projeto traz o rap e a poesia como carros-chefes, todos representados pelas mulheres deste movimento, cis e transgêneras. O conceito é abrir espaço para que elas possam demonstrar seu talento e suas músicas”, afirma. Sua intenção é que As Minas no Mic possa futuramente se tornar um festival.
🎧 Podcast
A indústria do “conteúdo adulto” rende bilhões nas plataformas online. Um exemplo é a plataforma OnlyFans. Os mais de 1,5 milhão de criadores de conteúdo geram mais de US$ 5 bilhões com materiais eróticos e pornográficos. A nova temporada do “Trabalheira”, produção da Repórter Brasil, discute se já se pode dizer que até o pornô passou pelo processo de “uberização” e pela ilusão de que todos podem ganhar muito dinheiro. Pesquisadora do tema na Universidade de São Paulo (USP), Lorena Caminhas explica que, até chegarem às plataformas pagas de sexo para comprar conteúdo, os consumidores necessariamente passam pelas redes sociais. “O Twitter é a principal plataforma de mídia social para quem comercializa sexo e erotismo. Quem já tem mais seguidores, quem já é mais bombado nas redes, é quem vai se destacar mais, é quem vai ter mais dinheiro, é quem vai ter mais assinantes e é quem vai ser recomendado pela própria plataforma”, afirma a pesquisadora.
✊🏽 Direitos humanos
Plataforma de streaming que traz séries, longas e curtas-metragens com interpretação em Libras, a HandsPlay inicialmente disponibilizou cerca de 40 filmes, mas outros 90 devem ser inseridos em breve no catálogo. Segundo o Conquista Repórter, uma das principais diferenças da plataforma é que cada personagem das obras disponíveis tem seu próprio intérprete de libras. A iniciativa, da startup Mãos Tagarelas, de Vitória da Conquista (BA), é resultado de uma parceria com produtores audiovisuais da Bahia. “Quando pensamos em acessibilidade para surdos, é isso o que queremos, que em todos os ambientes eles se sintam acolhidos e entendidos”, diz a professora Josineide Blandino dos Santos.
Ainda sobre acessibilidade: o projeto Libras na Quebrada chega ao seu terceiro ano de atuação na Casa de Cultura da Vila Guilherme, na zona norte de São Paulo, para ensinar a linguagem às pessoas periféricas. Ao Desenrola e Não Me Enrola a criadora da iniciativa, Gyanny Vilanova, explica que um dos objetivos da iniciativa é sensibilizar sobre inclusão: “A gente ensina libras, mas a gente também conscientiza as pessoas, fazemos reflexões e fazemos com que as pessoas entendam a cultura surda”. A enfermeira Fabiana Souza, por exemplo, que é aluna do projeto desde 2021 relata que os aprendizados a ajudaram a atender melhor a população surda nos equipamentos públicos de saúde onde ela trabalha.