O ataque bolsonarista em Brasília e o trabalho escravo nos laranjais
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🔸 “Não é um diploma do Lula presidente, é um diploma significativo do povo que reconquistou o direito de viver em democracia neste país.” No discurso de sua diplomação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT) chorou, classificou as eleições como uma escolha “do amor em vez do ódio” e lembrou as tentativas de bolsonaristas para tumultuar o pleito. O Nexo destaca as principais falas do petista e também do ministro Alexandre de Moraes na diplomação realizada ontem – antecipada, aliás, numa tentativa de arrefecer os impulsos golpistas de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) que ainda se aglomeram em atos antidemocráticos.
🔸 À noite, eles, os bolsonaristas, incendiaram veículos e tentaram invadir a sede da Polícia Federal em Brasília. A ação na PF ocorreu em reação à prisão do indígena José Acácio Serere Xavante decretada por Alexandre de Moraes a pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR). Segundo a Corte, o apoiador de Bolsonaro se vale da posição de cacique para arregimentar aliados com o objetivo de cometer crimes e tem ameaçado de agressão e perseguição ministros do Supremo e o presidente eleito. O Portal Terra explica o ataque bolsonarista em Brasília e reúne vídeos das ações em diversos pontos da capital.
🔸 Bolsonaro, por sua vez, foi até apoiadores em frente ao Palácio da Alvorada. Acenou, abraçou crianças, rezou ao lado de um padre, mas não discursou. Depois de um longo jejum na sequência da derrota nas urnas, ele tem aumentado a frequência das interações com apoiadores, como lembra o Metrópoles. Na sexta-feira passada, ele chegou a discursar e fez declarações dúbias, dizendo que o povo “decide para onde vão as Forças Armadas”.
🔸 Sobre os atos golpistas: sites que estimulam as manifestações bolsonaristas usaram o Google Ads e o Google AdSense para lucrar com a exibição de banners e, também, para anunciar conteúdos de cunho antidemocrático. O Aos Fatos apurou que links que levam aos sites Patriota News e Diário Nordeste, ambos incentivadores dos atos, foram inseridos em páginas que se valem do Google AdSense como forma de monetização. A reportagem explica que o Google diz proibir conteúdos que vão de encontro às políticas da empresa.
🔸 Também no dia da diplomação de Lula, Bolsonaro aumentou o salário mínimo acima da inflação. Foi a primeira vez desde 2019. O salário, assim, vai de R$ 1.212 para R$ 1.302. A CartaCapital informa que, antes de Bolsonaro e de Michel Temer (MDB), o salário era corrigido não só pela inflação, mas com base no crescimento do PIB do país. Nos quatro anos de gestão do ex-capitão, porém, os orçamentos indicaram apenas a reposição prevista na Constituição, sem aumento real.
🔸 O Ligue 180, serviço de atendimento a mulheres vítimas de violência, pode acabar por falta de recursos. Se neste ano a verba para a ferramenta foi de R$ 22 milhões, apenas R$ 3 milhões estão previstos para 2023. A deputada Lídice da Mata (PSB-BA), membro do grupo de trabalho de mulheres na equipe de transição, resume para a Agência Pública alguns dos desafios que o governo Lula irá enfrentar com o rombo orçamentário deixado por Bolsonaro. O total destinado para o enfrentamento da violência contra a mulher é de apenas R$ 13 milhões – um corte de 70% em relação ao ano anterior.
📮 Outras histórias
“Como o pessoal vai levar o ganha-pão para os seus familiares comerem? Comprar roupa de Natal para os filhos? Deixou esse prejuízo para as famílias, muitas famílias não vão ter natal, não vão ter ano novo.” As perguntas feitas por José Carlos ecoam as vozes de outros moradores da Comunidade do Ideal, em Realengo, bairro da Zona Oeste do Rio de Janeiro. No último dia 6, eles foram acordados pelo barulho de retroescavadeiras da prefeitura que derrubou casas e comércios na área onde será erguido o Parque de Realengo. O Favela em Pauta narra os esforços dos moradores para tentar salvar pertences entre os escombros.
Marielle Franco, Conceição Evaristo, Elza Soares, Dandara dos Palmares, Carolina Maria de Jesus, Zumbi dos Palmares, Emicida e Luiz Gama são alguns dos rostos representados em grafites nos muros da Escola Municipal Tenente General Napion, no Complexo da Maré, no Rio de Janeiro. O Maré de Notícias explica que esses símbolos são pilares dos ideais que o colégio almeja promover. “Estamos nessa construção diária na questão étnico-racial, entendendo que uma educação antirracista não é só uma educação que combate o racismo, mas que mostra todas essas personalidades e possibilidades que a educação tem”, afirma Aline Botelho, diretora da escola.
📌 Investigação
Sem camas, sem cadeiras, sem mesa, tampouco energia elétrica ou saneamento básico. Quando chovia, a água descia pelo telhado e os 15 trabalhadores, que faziam jornadas de até 13 horas diárias de domingo a domingo, mal podiam dormir. Eram funcionários da Fazenda Alagoas, no sul de Minas Gerais, e cumpriam o serviço na colheita de laranja. A Repórter Brasil detalha como viviam os trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão no final de novembro e conta que as laranjas da fazenda são vendidas por todo o país. A cadeia produtiva da fruta, aliás, tem registrado uma série de violações trabalhistas e de direitos humanos nos últimos anos, descritas na reportagem.
🍂 Meio ambiente
Em meio às queimadas e à progressiva destruição da natureza, em pleno Arco do Desmatamento, vive um dos primatas mais ameaçados do mundo: o zogue-zogue de Mato Grosso. O macaquinho de aparência simpática, reconhecido pela ciência apenas em 2018, tem sua distribuição limitada ao Norte do Estado pelo encontro dos rios Juruena e Teles Pires, duas imensas barreiras fluviais que margeiam seu hábitat – e que contribuem para que a espécie fique cada vez mais encurralada pelo desmatamento. Reportagem d’O Eco conta como pesquisadores correm contra a destruição da Amazônia para garantir a sobrevivência do animal.
O termo ESG – sigla para as palavras Environmental, Social, Governance – pode ser traduzido simplesmente como sustentabilidade. O Joio e o Trigo explora a expressão desde sua origem para destacar que o mercado financeiro trata a ESG como uma revolução que levaria a um modelo no qual as empresas não se preocupariam só com lucros, mas também com questões ambientais, sociais e de governança corporativa. A reportagem mergulhou em relatórios de empresas e atestou que esses valores, na verdade, são todos tratados como medidas para agregar mais valor às empresas, ou seja, render mais lucros.
📙 Cultura
Gestão autoritária de diretores indicados pelo governo de Jair Bolsonaro (PL), descontinuidade de programas de fomento ao setor cultural e risco à segurança e à preservação dos acervos físicos e digitais. Estes são alguns dos diagnósticos do setor cultural brasileiro apresentados em novo relatório da Secretaria Especial da Cultura e instituições vinculadas à pasta. O Nonada teve acesso ao documento de 71 páginas que será entregue aos integrantes do grupo técnico de Cultura no governo de transição.
“Todo quarto de empregada é próximo à grande lixeira da casa, porque está sempre no fundo do profundo do imóvel. Nós, os ‘quartinhos’, estamos sempre perto dos odores da vida das pessoas que não nos habitam. Perfume francês, patê de fígado de pato, vinho caro, trufas, papel higiênico, absorventes, suor. Quase tudo era deles.” O trecho é da obra “Solitária”, da escritora carioca Eliana Alves Cruz. Em seu quarto livro, ela dá “voz à história dos quartos de despejo e seus passantes”, como escreve Munah Malek, em resenha na Quatro Cinco Um. Segundo Malek, “Eliana Alves Cruz nos faz um enorme favor: nos brinda com aulas necessárias — a todos nós — de letramento racial”.
🎧 Podcast
A volta de Lula à Presidência do Brasil se soma a outros governos alinhados à esquerda na América Latina, caso da Colômbia, com Gustavo Petro, e do Chile, com Gabriel Boric. Todos deram destaque às pautas ambientes em suas campanhas e agora terão de colocar suas propostas em prática. O episódio 21 do “LatitudeCast”, produção da Amazônia Latitude, discute as dificuldades que esses governos podem enfrentar, com a participação de Fabricio Pereira da Silva, professor do Departamento de Estudos Políticos e da Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).
✊🏽 Direitos humanos
“O cárcere me fez pensar que a culpa era minha por todas as violações que sofria.” A frase é de Iza Jakeline Barros da Silva, 38 anos, que, dez anos atrás, foi algemada para o trabalho de parto e deu à luz no chão de um hospital, sob os olhos de dois agentes armados. Iza é negra, como 62% das mulheres encarceradas no Brasil, e só passou a questionar a própria culpa quando teve contato com movimentos sociais de mulheres que, como ela, passaram pelo sistema prisional. A Ponte ressalta que esses movimentos não almejam apenas reduzir o encarceramento em massa, mas sim abolir todos os espaços que aprisionam pessoas. A reportagem reúne relatos das sobreviventes do cárcere que participaram do 2º Seminário Internacional da Associação Amparar.