As armas israelenses em SP e as meninas no trabalho doméstico
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🔸 Os Estados Unidos vetaram a proposta do Brasil de uma “pausa humanitária” no conflito entre Israel e Hamas, em reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas (ONU) ontem. A pausa proposta pela diplomacia brasileira tinha como objetivo o fornecimento de eletricidade, água, alimentos e medicamentos para os civis em Gaza. Segundo o Metrópoles, para explicar o veto, os EUA apontaram o fato de o texto não mencionar “o direito de autodefesa de Israel”.
🔸 “O Brasil sai engrandecido do episódio, porque apresentou um texto equilibrado, que cobria todos os pontos principais. (...) O veto representa, obviamente, a postura dos Estados Unidos, que é de solidariedade absoluta a Israel, como tem sido sempre. Não é uma surpresa.” Em entrevista à CartaCapital, o diplomata Rubens Ricupero afirma ainda que “estão se multiplicando em toda parte os sinais de uma erosão do sistema internacional”, num contexto de guerra na Ucrânia e de uma “quase guerra fria entre Estados Unidos e China”. Para ele, o poder de veto, previsto na fundação da ONU em 1945, é “uma espécie de pecado original, que iria condenar o conselho à paralisia sempre que as grandes potências não estivessem de acordo”.
🔸 A relação bélica do governo de São Paulo com Israel. A Rota, tropa especial da Polícia Militar paulista, apresentou nesta semana suas novas armas – entre elas, dez metralhadoras de guerra que disparam de 600 a 750 balas por minuto. A Ponte mostra que o armamento foi adquirido da indústria israelense no governo João Doria (PSDB), em 2020. Antes ainda, em 2015, sob a gestão do atual vice-presidente Geraldo Alckmin, São Paulo comprou seis blindados israelenses no valor de R$ 30 milhões. Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP, lembra que a relação com Israel tem origem no segundo governo Lula, quando o governo tentou se aproximar do país a fim de ser “um mediador do Terceiro Mundo”. “O Brasil fracassou nisso. E se tornou um grande comprador de armas israelenses que são desenvolvidas a partir da experiência de Israel no controle e ocupação dos palestinos”, afirma Huberman.
🔸 Depois de cinco meses de trabalho, a CPMI dos Atos Golpistas aprovou ontem o relatório final da comissão. De autoria da relatora Eliziane Gama (PSD-MA), o texto aponta Jair Bolsonaro (PL) como o “mentor moral e intelectual” dos atos de 8 de janeiro. O ex-presidente está na lista de 60 pedidos de indiciamento. O Congresso em Foco explica que a CPMI não tem poder o poder de indiciar alguém, mas pode recomendar a ação ao Ministério Público e outras autoridades.
📮 Outras histórias
Pela primeira vez na disputa pela Taça das Favelas, o time da Vila do João, da Maré, desponta no campeonato organizado pela Central Única das Favelas (Cufa). É o único representante do complexo que abrange 16 comunidades na zona norte do Rio de Janeiro. “O futebol pode ser a oportunidade única para um menino”, afirma ao Maré de Notícias o coordenador da equipe da Vila do João, Evandro de Menezes. “Não queremos formar só atletas, e sim inserirmos, através do esporte, o respeito e a cidadania. O esporte também significa saúde”, completa.
📌 Investigação
A violência doméstica atinge mulheres na gestação e no pós-parto e extrapola as agressões físicas e psicológicas. Também são negados a elas recursos básicos, como assistência médica, comida ou dinheiro, em um período em que, muitas delas, perdem o emprego ou se tornam dependentes financeiramente. A revista AzMina ouviu 83 mulheres, em que 94% relataram algum desses abusos. As histórias ainda mostram que 42% dos casos em que houve violência com a chegada dos filhos, a gestação foi programada, e em muitas delas foram os próprios parceiros que pediram para a parceira engravidar.
🍂 Meio ambiente
Mecanismo fiscal que fortalece a gestão ambiental nos estados, o ICMS Ecológico pode desaparecer com a atual proposta de reforma tributária do governo federal, que pretende substituir o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) pelo Imposto Estadual sobre Bens e Serviços (IBS). O Eco destrincha como funciona essa taxação, a importância dela para a proteção ambiental nos municípios e como a sociedade civil tem se organizado para defender um IBS Ecológico que garanta o estímulo ao desenvolvimento regional sustentável.
Loteamentos irregulares abertos por grilagem de terra se aproximam da Terra Indígena Tenondé Porã, na região de Parelheiros, uma área rural e de preservação de mananciais no extremo sul da cidade de São Paulo. O território foi homologado em 2016, mas ainda aguarda a demarcação física. A Periferia em Movimento mostra que o avanço da mancha urbana é uma ameaça ao “nhandereko” dos Guarani Mbya, que consiste no contato e na proteção da natureza. “Viver dessa forma significa que vamos proteger o meio ambiente, onde tem outras vidas físicas e espirituais, que são os guardiões das árvores, de cada animal, das águas, das nascentes, dos rios, da cachoeira e das pedras”, explica Jerá Guarani, liderança na Tekoa Kalipety, uma das 14 aldeias que compõem a terra indígena.
📙 Cultura
O ator Roberto de França, o Pernalonga, foi um dos grandes nomes da cultura em Pernambuco, deixando sua contribuição para as artes cênicas e para a cena LGBTQIA+ de Olinda e Recife. Sua trajetória agora é narrada no livro “Pernalonga, uma Sinfonia Inacabada”, fruto de uma extensa pesquisa e entrevistas do jornalista Márcio Bastos com amigos, artistas e familiares do artista. À revista O Grito! o autor detalha como foi o curso de produção: “O processo foi de encantamento e admiração. Conhecia pouco sobre ele antes de iniciar o processo de pesquisa e escrita. Assim como muitas pessoas, sabia da sua importância, mas não tinha dimensão do quão complexa era sua figura”.
🎧 Podcast
Impactados por construção de rodovia, a comunidade tradicional de pescadores artesanais da Costeira do Pirajubaé e os moradores do Saco dos Limões, em Florianópolis (SC), também lidam com um projeto da Companhia de Saneamento de Santa Catarina (Casan) para lançar o esgoto da Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Tavares na Baía Sul da capital, onde se encontra a Reserva Extrativista Marinha do Pirajubaé. O último episódio de “Ilha Invisível”, produção do Portal Catarinas, traz a luta e a preocupação de pescadores e moradores da região. O podcast é resultado da Bolsa de Reportagem de Justiça Climática, promovida pela Ajor e pelo iCS (Instituto Clima e Sociedade).
🙋🏾♀️ Raça e gênero
Nove a cada dez meninas do 5º ano do ensino fundamental – faixa dos 10 anos – da rede pública afirmam realizar tarefas domésticas, enquanto o índice de meninos é de 76%. Os dados são do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb) com base no ano de 2021. Para Quéli Anschau, professora da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), as meninas são responsabilizadas por tarefas invisibilizadas socialmente, que envolvem o cuidado da casa e de pessoas. Levantamento da Gênero e Número detalha ainda que 20% dos meninos entrevistados trabalham fora de casa. Ao menos 13% das crianças não declararam raça. Ao considerar os casos em que essa informação está disponível, os dados mostram que 24% dos meninos pretos trabalham fora do domicílio.