A aprovação do Novo Ensino Médio e o tráfico de bebês para o exterior
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🔸 “Há 20 dias, o Ministério da Educação não dá um pio sobre o conteúdo do Projeto de Lei n. 5.230/2023 de ‘reforma da reforma’ do Ensino Médio”, escreve o professor da Faculdade de Educação da USP e membro do comitê diretivo da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Fernando Cássio, em coluna na CartaCapital. O educador ressalta a passividade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em articular demandas populares de estudantes e profissionais da educação. O texto, aprovado ontem pela Câmara dos Deputados, com relatoria do deputado Mendonça Filho (União Brasil-PE), retirou pontos que já teriam sido acordados no Senado, como a previsão de que a carga horária total do Ensino Médio pudesse aumentar para até 3.600 horas, de forma progressiva, prevendo a oferta da educação técnica e profissionalizante, e a obrigatoriedade da língua espanhola do currículo. A proposta agora segue para sanção do presidente.
🔸 A poucos meses das eleições municipais, funcionários e terceirizados que trabalham para Meta, YouTube e TikTok relatam preocupação com a moderação de conteúdos durante o período eleitoral, quando aumentam as publicações com desinformação e discurso de ódio. O Aos Fatos ouviu os trabalhadores responsáveis por avaliar e classificar vídeos, imagens e publicações. Eles afirmam que as metas ficaram mais difíceis de alcançar e que a pressão já afeta a saúde mental das equipes – reduzidas pela onda de demissões. O pleito deste ano é o primeiro desde a popularização de ferramentas de inteligência artificial.
🔸 “Quando olhamos para um fenômeno de desinformação, não adianta só olhar para uma plataforma, para um perfil específico. As campanhas são feitas multiplataformas, cada ferramenta vai ser usada com uma finalidade, elas são articuladas e isso faz com que o monitoramento e a análise fiquem mais complexos”, avalia Débora Salles, coordenadora de pesquisa do Laboratório de Estudos de Internet e Redes Sociais (NetLab), da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Em entrevista ao Catarinas, a pesquisadora fala sobre o impacto das campanhas de desinformação e a necessidade de regulação das big techs. Salles destaca um estudo feito pelo laboratório sobre como organizações e perfis de extrema direita, como Brasil Paralelo, Instituto Plínio de Oliveira e Citizen Go, lideraram a disseminação de conteúdos antiaborto em diversas redes sociais.
📮 Outras histórias
A prefeitura de Aracaju (SE) tem acelerado os trabalhos finais do Residencial Mangabeiras Santa Dulce dos Pobres para a entrega das 1.300 moradias. O projeto, porém, colocou famílias de uma ocupação em luta por moradia contra as famílias de catadores de mangaba da Reserva Extrativista das Mangabeiras Missionário Uilson Sá, que vivem da fruta há mais de 80 anos. O projeto municipal já destruiu boa parte da reserva, desmatando mais de 600 árvores. A Mangue narra os cafés coletivos da comunidade que estão se tornando cada vez mais importantes politicamente como forma de comunhão e resistência. “Nunca fomos contra o direito à moradia digna, existem muitas áreas para esta obra. Mas não entendemos por que construir elas exatamente aqui. A prefeitura ergueu essas casas sem perguntar nada para ninguém”, afirma Maria Aliene dos Santos, presidente da Associação das Catadoras e Catadores de Mangaba.
📌 Investigação
Com lei e fiscalização frágeis, o Brasil é propício para o tráfico internacional de bebês. Nos últimos cinco anos, a Polícia Federal instaurou 120 inquéritos para apurar casos do gênero. Segundo a revista piauí, o modo de operação é o seguinte: mulheres recebem um pagamento para a chamada “cessão temporária de útero” – “barriga de aluguel” – e passam a guarda para um terceiro, responsável por transportar recém-nascidos para o exterior. A reportagem destrincha o caso do português Márcio Rocha e de sua secretária Márcia de Godoy Honorio, envolvidos em um esquema do tipo e descobertos por suspeitas dos próprios médicos da Santa Casa de Valinhos, no interior de São Paulo, onde nasceram dois bebês registrados por Rocha em menos de um mês.
🍂 Meio ambiente
Tecnologia centenária de comunidades tradicionais no Oeste da Bahia, o monjolo, roda d’água feita de madeira, apoia na captação da água dos rios para destiná-la ao uso doméstico, à irrigação de plantios e para dar de beber aos animais. A Eco Nordeste visitou três dessas estruturas na comunidade Fazenda Lapinha, município de Santa Maria da Vitória, e conheceu também outra forma tradicional de captar água em Correntina – a criação de “regos”, uma técnica de desvio do curso d’água de uma nascente para levá-la às casas das famílias. No entanto, essas ferramentas correm risco de desaparecer devido à escassez hídrica provocada pelas estruturas de irrigação utilizadas pelo agronegócio e à diminuição das chuvas na região.
📙 Cultura
“Aprendi a pintar sozinho. Sempre tentando aprender com livros, vídeos, sendo autodidata. Nunca fiz curso de pintura. Meu caminho foi assim: eu ia fazendo e aprendendo uma coisa nova. Aliás, isso é das coisas que mais me interessam em fazer pintura. Quanto mais você pinta, mais vai aprendendo”, afirma o artista Ramonn Vieitez, que mergulha no universo dos sonhos, das cores e das fantasias em exposição em cartaz na Torre Malakoff, em Recife (PE). À revista O Grito! Vieitez fala sobre algumas influências em sua produção: “Eu não era uma criança que via pintura no museu, minha mãe não me levava no museu. Tudo que vinha era da TV e do computador. Minhas cores vêm desse mundo: cores que você vê nesse tipo de imagem. É um uso muito forte da cor. Involuntariamente eu trago isso no meu trabalho. Mesmo quando faço algo com tons mais terrosos, é um terroso que brilha. Um ocre muito forte, intenso, vivo”.
🎧 Podcast
Um dos restaurantes mais tradicionais de Santos (SP), a Cantina Babbo Américo é um comércio familiar que existe há mais de 50 anos e resiste ao tempo e às transformações da cidade. O “Juicysantos Podcast”, produção do Juicy Santos, conversa com Américo Júnior, à frente do estabelecimento fundado por seu pai, sobre as origens da sua família, os desafios enfrentados durante a pandemia e as dificuldades de fazer a gestão de um comércio local. O episódio revisita a história do restaurante e sua importância para a cidade.
🙋🏾♀️ Raça e gênero
“Enquanto mulher trans e periférica, eu sou uma sobrevivente por não aceitar nada que a sociedade historicamente colocou para o meu corpo. Eu não aceitei a prostituição como a minha única opção de vida. Eu relutei contra isso por vários anos, desde quando eu me entendi travesti”, afirma Agatha Benks, vice-presidente do Conselho Estadual LGBTQIA+ do Espírito Santo e pré-candidata a vereadora do município de Cachoeiro de Itapemirim. Ao Desenrola e Não Me Enrola Agatha destaca que abandonou os estudos aos 16 anos devido à discriminação que sofria, mas posteriormente voltou a estudar e optou por trabalhar em áreas que se relacionam com a militância sobre negritude e a população LGBTQIA+. “É só na educação e no estudo que a gente consegue romper os preconceitos”, diz.