O apagão nas periferias de SP e a falta de vagas no sistema carcerário
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🔸 A Justiça deu um prazo de 24 horas para a concessionária Enel restabelecer a energia de todos os imóveis atingidos pelo apagão em São Paulo, informa a CartaCapital. Quase uma semana após a tempestade que causou a interrupção da energia elétrica na capital e na região metropolitana, cerca de 90 mil imóveis ainda estavam sem luz ontem. A decisão prevê uma multa de R$ 100 mil por hora em caso de descumprimento, e o prazo começa a contar a partir da publicação em Diário Oficial, o que deve acontecer hoje. A liminar responde a uma ação movida pelo Ministério Público de São Paulo e pela Defensoria Pública estadual contra a concessionária.
🔸 Esta não foi a primeira vez que São Paulo, sob a Enel, ficou no escuro: em novembro de 2023, foram mais de 2,1 milhões de pontos sem energia elétrica depois de uma chuva com rajadas de vento. “Na ocasião, a própria empresa admitiu que os cortes de luz na periferia eram até oito vezes mais frequentes que no centro”, destaca a mestre em Geografia Humana Fernanda Pinheiro da Silva, em artigo na Alma Preta. Ela lembra ainda que, em março deste ano, a cidade sofreu outra interrupção no fornecimento durante uma onda de calor. “Os apagões escancaram que a finalidade da privatização de serviços públicos é dar vazão a interesses econômicos de empresários e políticos vampirescos. (...) Nas periferias, que historicamente vivenciam racionamentos, interrupções e baixa qualidade dos serviços prestados independente do fornecedor, o sentido dessas privatizações é ainda mais crítico.”
🔸 Não vai ter horário de verão. O governo bateu o martelo ontem, depois que estudos do Ministério de Minas e Energia (MME) e do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) mostraram que o custo-benefício não justifica a adoção da medida. A Agência Eixos explica que a discussão sobre a volta do horário de verão surgiu em meio à crise hídrica que afeta as hidrelétricas em todo o país. Segundo o ministério, porém, ações adotadas ao longo do ano ajudaram a conservar água nos reservatórios. É o caso, por exemplo, de Belo Monte, que reduziu a vazão durante o dia para atender a demanda nos horários de pico.
🔸 Depois de atingir a menor profundidade em 122 anos, o rio Negro voltou a encher – mas em ritmo lento. De segunda até ontem, o nível da água subiu 9 centímetros. “Ainda não é o final da estiagem”, afirma ao Amazonas Atual a pesquisadora Jussara Cury, do Serviço Geológico do Brasil. “Precisamos de chuvas consistentes e distribuídas tanto na região de cabeceira quanto na parte central da bacia [do rio Amazonas] e na parte mais a jusante para a recuperação dos níveis”, completa. O rio Solimões passa por situação semelhante. Já o rio Madeira registrou uma nova mínima histórica na última sexta (19 centímetros), mas voltou a subir e chegou a 54 metros.
🔸 O Brasil é o quinto país mais desigual do mundo, e o brasileiro precisaria de 113 anos para atingir um padrão de prosperidade ideal – segundo a classificação do Banco Mundial, uma renda diária de 25 dólares. Isso se o país crescer 2% ao ano. A Agência Nossa detalha os dados que integram o relatório “Poverty, Prosperity, and Planet Report 2024” produzido pelo Banco Mundial. O documento mostra que, globalmente, a pobreza voltou aos níveis pré-pandemia, mas os mais pobres estão ainda mais empobrecidos. Assim, a meta de erradicar a pobreza extrema até 2030 está fora de alcance – e pode levar mais de três décadas.
🔸 Só nos últimos 12 meses, mais de 40 milhões de pessoas sofreram golpes digitais, como clonagem de cartões de crédito e invasão da conta bancária. Segundo o Banco Central, de janeiro a julho de 2024, foram mais de 2,5 milhões de pedidos de devolução de valores por fraude. A Lupa criou uma ferramenta com informações para evitar golpes, além de orientações caso o problema já tenha acontecido. Em parceria com o Instituto de Defesa de Consumidores (Idec), Será que É Golpe? reúne mais de 120 conteúdos já verificados sobre fraudes digitais.
📮 Outras histórias
Um escadão na periferia da zona sul de São Paulo se transformou numa galeria. A comunidade do Jardim Ibirapuera, com educadores do ponto de cultura Bloco do Beco, decoraram cada degrau da escadaria com azulejos coloridos e encheram as paredes laterais com fotos e a história da educadora Maria Eterno dos Reis. Tia Maria, como ficou conhecida, fundou no bairro, há quase 30 anos, uma escola que leva seu nome. A Periferia em Movimento conta que a Escolinha da Tia Maria foi o primeiro espaço de educação comunitária da localidade. A escola alfabetizou gerações de famílias e também funcionava como um ponto de assistência para a comunidade.
📌 Investigação
Era para ser um acolhimento noturno de 14 dias para os três irmãos Amaro, Olivia e Nina (nomes fictícios). Mas, por mais de um ano, o Centro de Atenção Psicossocial (CAPs) acabou se tornando um lar improvisado. A Agência Mural narra a história das crianças com idades entre 11 e 12 anos, que tinham como endereço o CAPS Infantojuvenil de Diadema, na Grande São Paulo. Os irmãos desmontavam suas camas obrigatoriamente às 7h e liberavam espaço para o primeiro atendimento médico do dia. O quarto improvisado só voltava a tomar forma à noite, com o fim das consultas. “Elas perderam o direito de estar na vida, de estabelecer relações e de ter escolhas até sobre o que comer e para onde ir. Não podiam dizer: ‘Eu vou ali brincar’, porque estavam ‘presos’ em um serviço de saúde”, conta uma das pessoas ouvidas pela reportagem. O acolhimento no CAPs teve autorização do Ministério Público a pedido do abrigo em que as crianças viviam anteriormente, após serem retiradas da família por denúncia de negligência.
🍂 Meio ambiente
“Todo mundo de todo o mundo quer estar presente [na COP 30]”, disse o secretário do Meio Ambiente do Pará, Raul Protázio Romão, durante a Conferência Brasileira Clima e Carbono. Em pouco mais de um ano, Belém irá sediar a conferência do clima da Organização das Nações Unidas (ONU), e o Reset mostra as estruturas que estão sendo construídas para o evento. Para mitigar questões com o trânsito e aliviar um pouco a demanda sobre a rede hoteleira da cidade, Belém terá uma espécie de “vila olímpica” com 800 quartos, destinados a abrigar as delegações nacionais. A conferência reúne diplomatas responsáveis pelas negociações de 197 países que fazem parte da Convenção do Clima. Depois da COP 30, o espaço irá abrigar órgãos do governo estadual que hoje não têm sede própria.
📙 Cultura
Para Ana Paula Sirino, a reconstrução da memória de um lugar se dá por meio da tinta a óleo sobre tela. A piauí conta que a arte da jovem de 27 anos ilustra as vivências dos moradores do quilombo do Torra, em Sabinópolis, município de Minas Gerais, em retratos de uma vida simples na comunidade. São cenas do dia a dia, ao ar livre e dentro das casas, que mostram a presença do quilombo iluminadas cuidadosamente. “Quem conhece as cidades do interior de Minas Gerais sabe que lá a luz é do jeito que ela pinta: tem a luz própria da hora das galinhas no poleiro e tem a luz própria das crianças perto do rio, indo pra escola. Não é sobre a hora que está nos relógios, e sim na coexistência”, avalia Flaviana Lasan, educadora, artista visual e curadora. Para ela, Ana e sua arte desmistificam o que significa quilombo no imaginário social e abrem espaço para a representatividade da mulher negra nas artes plásticas.
🎧 Podcast
“O ódio às mulheres é naturalizado a tal ponto que nós que estamos no espaço público sofremos violência diante de olhos que não reagem, e do silêncio sepulcral dos homens e de setores expressivos da imprensa brasileira”, relata Manuela D’Ávila ao “Pauta Pública”, produção da Agência Pública. A ex-deputada federal conta que passou por diversos episódios de assédio e violência, em alguns casos incluindo até mesmo sua filha. Do assassinato de Marielle Franco em 2018 ao adesivo de Dilma Rousseff no tanque de gasolina de um carro em 2015, são inúmeros os exemplos de misoginia e violência política que as mulheres sofrem no Brasil. D’Ávila destaca trechos de textos compilados do livro “Sempre Foi sobre Nós: Relatos da Violência Política de Gênero no Brasil”. A obra tem colaborações de Anielle Franco, Duda Salabert, Sonia Guajajara e Talíria Petrone.
✊🏽 Direitos humanos
O Brasil enfrenta um déficit de 174.436 vagas no sistema carcerário, segundo o Relatório de Informações Penais (Relipen) do Ministério da Justiça. O Notícia Preta destrincha o documento e destaca que a maioria dos encarcerados é de homens, totalizando 634.617, enquanto 28.770 são mulheres, incluindo 212 gestantes e 117 lactantes. Apenas 19.445 famílias recebem auxílio-reclusão, benefício destinado a dependentes de presos de baixa renda. São Paulo lidera em número de presos (200.178) e também em déficit de vagas (45.979), seguido por Minas Gerais e Rio de Janeiro. O relatório aponta ainda que existem em torno de 183.806 presos provisórios e um aumento de 14,40% na população em prisão domiciliar, além de 105.104 presos com tornozeleiras eletrônicas.