A alta no preço dos alimentos e a história dos nomes das favelas de SP
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🔸 Moradores do Jardim Pantanal e do distrito Jardim Helena, em São Paulo, estão ilhados há uma semana. As ruas estão submersas pelas águas do rio Tietê, e a solução apresentada pela prefeitura é esvaziar a região, ou seja, remover 45 mil pessoas de suas casas, sob a promessa de uma indenização. A Agência Pública visitou a área alagada e conversou com os moradores. Eles afirmam que não receberam alertas da Defesa Civil nos piores dias de chuva, na semana passada. “Quando entra dezembro, janeiro e fevereiro, a gente já sabe que vai acontecer”, diz a comerciante Jacilene Geraldo dos Santos. Diante da tragédia anunciada, uma semana antes do alagamento, os moradores improvisaram um barco com madeiras e plásticos. O prefeito Ricardo Nunes (MDB) anunciou um auxílio emergencial de R$ 1 mil para os atingidos, mas os moradores enfrentam filas de até cinco horas para recebê-lo. Quanto à indenização, a proposta é pagar até R$ 50 mil aos que deixarem suas casas.
🔸 “A indenização de R$ 50 mil por família empurra essas pessoas para outras regiões igualmente precárias, sem resolver a raiz do problema. Esse tipo de medida transfere a responsabilidade para quem sofre com a falta de investimento público, em vez de garantir infraestrutura e urbanização adequadas”, escreveu, em nota, o Instituto de Referência Negra Peregum. A Alma Preta detalha o documento, que faz referência ao racismo ambiental. “Investimentos públicos não podem se concentrar apenas em regiões privilegiadas, reforçando o ciclo de exclusão”, diz o instituto.
🔸 Por que os alimentos estão tão caros? Em 2024, o aumento foi de 7,69%. Entre as principais causas, estão a desvalorização do real, eventos climáticos extremos e a maior demanda interna. O Aos Fatos explica cada um dos fatores que levaram à subida do preço dos alimentos e lembra que o café moído, no ano passado, subiu 39,6% em razão das queimadas no Brasil e de problemas na produção do Vietnã. Já o óleo de soja (29,21%) teve o aumento impulsionado em 2024 pelo uso na produção de biodiesel. A carne bovina (20,84%), por sua vez, encareceu por causa do ciclo pecuário e da estiagem, entre outros motivos.
🔸 A propósito: pressionado pelo preço dos alimentos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) reconheceu o problema e afirmou que busca uma solução para conter a alta. Mas também desinformou ao citar dados incorretos. A Lupa checou as falas do petista nas últimas semanas. Lula errou, por exemplo, ao afirmar que a carne caiu 30% em 2023 – a queda naquele ano foi de 9,37%.
🔸 Flávio Bolsonaro (PL-RJ), novo presidente da Comissão de Segurança Pública do Senado, pretende usar o colegiado para tentar barrar a ADPF das Favelas, ação no Supremo Tribunal Federal (STF) que propõe medidas para reduzir a letalidade policial no Rio de Janeiro, como o uso de câmeras nas fardas dos agentes e nas viaturas. Em entrevista ao Congresso em Foco, o senador criticou a ação e disse que ela “impede” o trabalho dos policiais. O filho de Jair Bolsonaro (PL) afirmou ainda que vai trabalhar para que a ADPF “seja arquivada, seja declarada improcedente”.
📮 Outras histórias
Em Pedreiras, no Maranhão, 32 mulheres em situação de vulnerabilidade entraram para o curso de bolo de pote do Centro de Recuperação Santa Maria Madalena (Cresman). O primeiro curso de 2025 no espaço, criado há 62 anos, focou em mulheres de baixa renda, mães solo e aquelas que recebem benefícios do governo federal. O Pedreirense conta que, além do curso, elas participaram de uma palestra sobre atendimento ao público e outra com o título “Poupar é preciso e urgente”. “É um pontapé inicial. Nosso desejo é que muitos outros cursos venham durante o ano, para dar a essas mulheres que ainda não têm uma renda a oportunidade de aprender algo e se desenvolver”, diz Antônia Ferreira, nova diretora do centro de recuperação.
📌 Investigação
Por mais de dois anos, o governo de Sergipe descontou ilegalmente 14% da remuneração de servidores públicos estaduais aposentados e pensionistas. Antes do confisco, os servidores só pagavam contribuição previdenciária sobre valores que ultrapassavam o teto da Previdência. A Mangue informa que, com a taxação do governo do estado, os aposentados e pensionistas que recebiam de um salário-mínimo até o teto do INSS também passaram a ter suas remunerações descontadas. As reduções iam de R$ 300 a R$ 900 por mês. O total retirado das aposentadorias e pensões ultrapassa a marca de R$ 244 milhões. O caso chegou ao STF, e quase todos os ministros consideram que o desconto foi inconstitucional.
🍂 Meio ambiente
Animais ameaçados de extinção, como lobo-guará, tatu-peba, gato-palheiro e caititu, são vítimas de afogamento letais nos canais de irrigação de fazendas. O Brasil tem uma das maiores áreas mundiais com irrigação artificial, são cerca de 70 mil quilômetros quadrados – o equivalente ao território da Irlanda. O “Massacre invisível”, especial d’O Eco, em parceria com a Fiquem Sabendo, revela que os governos de diversos países ignoram o extermínio da fauna por afogamento nesses canais. Mais de 200 animais de 35 espécies morreram em seis meses, segundo artigo publicado na revista “Biological Conservation” por pesquisadores ligados ao Conselho Nacional de Pesquisas Científicas e Técnicas e à Universidade Nacional do Pampa.
📙 Cultura
“A literatura oferece formas de reelaborarmos nossas experiências e ofertar outras imagens de mundo”, diz o escritor Luis Felipe Abreu, vencedor da primeira edição do Prêmio UERJ de Literatura com a novela “São Sebastião”, que será lançada pela Eduerj em junho. Segundo o Matinal, a obra conecta duas pandemias recentes: a da Covid-19, que completa cinco anos em 2025, e da Aids, que mantém status pandêmico ainda hoje. Sobrinho de Caio Fernando Abreu, vítima do vírus do HIV, Luis busca por meio da ficção ressignificar memórias coletivas. O autor acredita que suas produções são influenciadas pelo tio. “Não tenho como e não gostaria de negar essas influências da ficção do Caio e dos livros que ele tinha – que se tornaram a biblioteca da família – e acabam impregnando meu trabalho por vias distintas.”
🎧 Podcast
“Para nós, povo negro, a reparação não foi feita pelos mais de 300 anos de prestação de serviço e de muito sacrifício sem ser indenizado. Em todos os cantos do Brasil que eu vá, o nosso povo está morando mal e brigando pelo direito à habitação digna. Não basta ser habitação, é habitação digna”, afirma a ativista do movimento negro Maura Cristina. A série “Bem Viver nas Cidades: Lutas por Direitos e Movimentos Populares Urbanos”, do “Guilhotina”, podcast do Le Monde Diplomatique Brasil, explica como as violações do direito à cidade afetam de forma desigual as pessoas, sobretudo mulheres negras, população estatisticamente com os menores salários no país.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Entre os mais de 1.416 nomes de favelas em São Paulo, há mais de 300 jardins, 92 vilas e 74 parques. Nomes de religiosos e de áreas rurais como chácaras também aparecem com frequência. A Agência Mural ouviu moradores e lideranças comunitárias de vários territórios da capital paulista e mergulha na relação entre o processo de urbanização e as nomenclaturas – desde a história de ocupação até ao desejo dos moradores pelo reconhecimento do espaço. “Quando a ocupação do bairro começou aqui era uma área cheia de natureza, era uma fazenda, e tinha muitas árvores floridas”, conta José Henrique Soares de Jesus, morador do Parque das Flores, na zona leste. “Nem surgiram mais flores, hoje o bairro está todo urbanizado”, completa.
Mas vou continuar
Vey, n quero mais ler nada