A alíquota zero para alimentos importados e as pautas do 8M pelo país
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🔸 O governo anunciou que vai zerar a alíquota de importação para alimentos, numa lista que inclui carne, café, milho, óleo de girassol, óleo de palma, azeite, sardinha e açúcar. Segundo o Metrópoles, o objetivo das medidas, apresentadas pelo vice-presidente Geraldo Alckmin, é conter a alta dos preços dos alimentos – de 7,45% nos últimos 12 meses, segundo o IBGE. Outra iniciativa é o reforço dos estoques reguladores da Conab, estratégia defendida pelo presidente Lula para evitar oscilações de preços. O governo também pretende ampliar o Plano Safra para médios produtores e pediu que estados zerem o ICMS sobre a cesta básica, já isenta de tributos federais. As medidas foram discutidas com empresários do setor e ocorrem em um momento de queda na popularidade do governo, em meio à preocupação com a inflação dos alimentos.
🔸 A propósito: a inflação dos alimentos no Brasil está mais ligada ao mercado internacional do que a desastres climáticos ou ciclos da pecuária. É o que afirma o economista José Giacomo Baccarin, professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e um dos fundadores do Instituto Fome Zero. Em entrevista a’O Joio e O Trigo, ele destaca que, por ser voltada para a exportação, a grande produção agrícola brasileira encarece os preços no mercado interno. Para o economista, o governo deve intervir em momentos de alta repentina nos preços: “Lula poderia ter chamado os frigoríficos ao invés dos supermercados [na alta da carne, em 2024]. Chama os frigoríficos e pergunta o que aconteceu. Por que em quatro meses vocês subiram tanto o preço?”.
🔸 No primeiro discurso ao Congresso, Donald Trump voltou a defender as tarifas sobre importação – e lembrou que o Brasil cobra altas taxas dos Estados Unidos. Um dos maiores exportadores agrícolas e de aço e alumínio, o país será afetado pela taxação do governo Trump. Na prática, como o “tarifaço” pode afetar o Brasil? O Nexo conversou com dois especialistas para responder à pergunta. Para Marcos Jank, professor de agronegócio global do Insper, o Brasil pode se beneficiar, especialmente no agronegócio, como ocorreu em 2018, quando aumentou suas exportações para a China após tarifas impostas pelos EUA. “Não acho que há motivo para a gente comemorar. Acho que o mundo todo perde, a história mostrou isso algumas vezes”, pondera. Carolina Moehlecke, professora da Fundação Getulio Vargas, afirma que “os vencedores óbvios são os produtores do agronegócio”, mas lembra que os produtores brasileiros de manufatura devem perder, sofrendo com maior concorrência de produtos chineses baratos no mercado interno.
🔸 As novas tarifas de 25% impostas por Trump sobre importações do Canadá e do México devem impactar o setor automotivo no Brasil, elevando o custo de veículos e peças. A CartaCapital explica que aço, ferro, etanol e plásticos podem encarecer e pressionar a inflação por aqui. Caso os EUA igualem tarifas para o Brasil, o país pode perder até US$ 6,5 bilhões em exportações, o que elevaria o IPCA em 0,25%. Isso tudo num contexto em que o setor automotivo brasileiro enfrenta incertezas: são 44 marcas concorrendo no país e sete novas montadoras chinesas previstas para entrar no mercado em 2025.
📮 Outras histórias
Levantador de toadas do Boi Garantido, David Assayag cantou um trecho da toada “A Força que Vem do Azul”, do rival Boi Caprichoso. O episódio aconteceu durante o CarnaBoi em Parintins (AM), na terça-feira. O Amazonas Atual conta que Assayag pediu desculpas e disse ter cantado a música do concorrente por engano. O erro gerou forte reação dos torcedores do Boi Garantido, levando a diretoria do boi-bumbá a convocar David para uma reunião de urgência. Em nota, o cantor reconheceu a falha e afirmou que aceitará qualquer decisão da agremiação sobre sua permanência. “Lamento profundamente o desconforto causado”, disse no comunicado.
📌 Investigação
Mesmo diante do aumento da letalidade policial, a Polícia Militar de São Paulo diminuiu os procedimentos internos que apuram infrações e transgressões dos agentes. Levantamento feito pelo Instituto Sou da Paz mostra que os procedimentos instaurados nos conselhos de disciplina, que podem punir os PMs com expulsão, reduziram 48% de 2023 para 2024. Os autos de prisão em flagrante de delito militar – documentos em que se registra esse tipo de ocorrência – também caíram 48%. A Ponte destrincha os dados que, segundo os especialistas, incentivam cada vez mais a violência policial. “Isso chama muita atenção porque estamos vivendo um aumento da letalidade, mas não só. É importante dizer que esses conselhos [que podem resultar na expulsão dos policiais] envolvem infrações graves, como ameaça, extorsão, denúncia de que o policial está aceitando propina, corrupção”, afirma Rafael Rocha, coordenador de projetos do Sou da Paz.
🍂 Meio ambiente
Apesar da pressão de Lula para liberar a exploração de petróleo pela Petrobras na Foz do Amazonas, a área técnica do Ibama recomendou – pela terceira vez – que seja negada a autorização. A palavra final é do presidente do órgão, Rodrigo Agostinho, que não é servidor: filiado ao PSB, ele se destacou na presidência da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da Câmara dos Deputados durante o governo Bolsonaro e foi escolhido pela ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, para comandar o Ibama. A Sumaúma explica que Agostinho vive agora um dilema. Se mantiver a postura e negar novamente a licença para a Petrobras, poderá perder o cargo. Agostinho defende sobretudo que “as decisões do Ibama sejam técnicas”. “Defendo muito a minha equipe, às vezes até acho que minha equipe está errada, mas eu continuo a defendê-la.”
📙 Cultura
“Quando comecei a escrever sobre meu passado, compreendi em um nível mais profundo o que herdei não só de meus pais – com quem eu cresci –, mas de meus antepassados. Minha história familiar é muito diversa. Envolve migrações entre países e continentes; do campo para a cidade; e de uma classe social à outra”, afirma a escritora britânica Bernardine Evaristo, primeira mulher a ganhar, em 2019, o Booker Prize – um dos mais importantes do Reino Unido – e também a primeira a ocupar a presidência da Royal Society of Literature. À Quatro Cinco Um a autora fala sobre sua trajetória na literatura e seu especial interesse pela diáspora africana. “Nos meus livros, tratei de aspectos do passado e da sociedade contemporânea, mas ainda não escrevi sobre como pode ser o futuro da diáspora africana – me entusiasma tratar desse tema a partir de uma perspectiva britânica, que é a que conheço e entendo.”
🎧 Podcast
Em 2004, a então recém-formada antropóloga Lílian Panachuk participava do grupo de pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais que encontrou um sepultamento de uma criança indígena. Os ossos estavam guardados dentro de uma casca de árvore, todos tingidos de vermelho. Naquela época, o caminho de Lílian se cruzou, em um salão de cabeleireiro, com uma criança chamada Bibi Nhatarâmiak cujo sonho era ser arqueóloga e ficou fascinada com a história. O segundo ato do “Rádio Novelo Apresenta”, produção Rádio Novelo, narra como Bibi se tornou a primeira indígena bioarqueóloga do Brasil e tomou como missão honrar o sepultamento da criança encontrada pelo grupo de Lílian.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Com a proximidade entre o Carnaval e o Dia Internacional das Mulheres, celebrado amanhã, os grupos e movimentos feministas de todo o Brasil se juntam aos blocos remanescentes para a mobilização em defesa dos direitos das mulheres. O Catarinas destaca as principais bandeiras do 8M pelo país: a luta contra o feminicídio, pela legalização do aborto, por salários dignos e contra a precarização do trabalho. Em Santa Catarina, as manifestantes pedem também justiça para Sonia Maria de Jesus, mulher negra, com deficiência auditiva, resgatada da casa do desembargador Jorge Luiz de Borba, do Tribunal de Justiça do estado, por condições análogas à escravidão. A reportagem listou seis cidades para acompanhar as manifestações.