O 'agronejo' como braço cultural do agro e a perseguição ao funk
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🔸 Já tem data o interrogatório de Jair Bolsonaro (PL) no julgamento da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF). O ministro Alexandre de Moraes marcou para a próxima segunda-feira (09/06) o início dos interrogatórios dos réus do núcleo central da tentativa de golpe. Além do ex-presidente, outros oito serão interrogados. Segundo o Metrópoles, o primeiro a depor será Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator do caso. Em seguida, serão ouvidos: Alexandre Ramagem, Almir Garnier, Anderson Torres, Augusto Heleno, Jair Bolsonaro, Paulo Sérgio Nogueira e Braga Netto. Os interrogatórios serão feitos entre os dias 9 e 13 de junho, e os réus poderão optar por se manter em silêncio.
🔸 A Câmara dos Deputados aprovou um projeto que aumenta as penas para crimes ambientais como incêndios florestais e poluição, e impõe sanções a infratores, como a proibição de contratos com o poder público por cinco anos. De autoria de Gervásio Maia (PSB-PB), o projeto segue agora para o Senado. O Congresso em Foco informa que a pena para incêndio em vegetação será de três a seis anos de reclusão, com multa. A punição pode dobrar em caso de morte, com agravantes se o crime afetar áreas protegidas, envolver lucro ou colocar em risco a saúde pública. O deputado Pedro Uczai (PT-SC) lembrou o aumento de 104% nos focos de incêndio registrados em 2024, que somaram mais de 160 mil ocorrências e afetaram 5,7 milhões de hectares.
🔸 Outro texto aprovado pela Câmara na semana passada foi a Lei do Mar, como ficou conhecido o PL 6.969/2013, que estabelece a Política Nacional para a Gestão Integrada, a Conservação e o Uso Sustentável do Sistema Costeiro-Marinho (PNCMar). O Correio Sabiá explica que a proposta estabelece instrumentos práticos para a gestão do espaço marinho, como planos de emergência e contingência para lidar com desastres ambientais. Por exemplo, em caso de derramamento de óleo no mar, a lei estabelece com clareza as responsabilidades de cada ente federativo, a forma correta de descartar o material contaminado e como envolver as comunidades locais no processo.
🔸 Embora o parecer favorável do Ibama à exploração de petróleo na Foz do Amazonas não encerre o processo de licenciamento, o “ok” de Rodrigo Agostinho, presidente do órgão ambiental, representa uma mudança de rumo significativa. A decisão abre espaço para o avanço da exploração na região, mesmo diante de críticas técnicas internas e riscos ambientais amplamente reconhecidos. A Eixos traz a íntegra dos atos do Ibama sobre o plano da Petrobras de perfurar um poço na margem equatorial. A reportagem lembra que, ainda em maio de 2023, Rodrigo Agostinho acatou o parecer da área técnica rejeitando o pedido de licenciamento para a perfuração. Em fevereiro deste ano, já sob pressão do governo Lula, 29 analistas ambientais recomendaram manter a licença indeferida. Mas no apagar das luzes de maio passado, Agostinho voltou atrás e autorizou a Avaliação Pré-Operacional – um simulado de emergência ambiental, que testará a viabilidade do plano em campo.
📮 Outras histórias
Cinco anos depois da morte de Miguel Otávio, a mãe do menino, Mirtes Renata, organizou um novo ato por justiça ontem, em Recife. Miguel, criança negra de 5 anos, morreu em 2020 ao cair do 9º andar de um edifício no centro da cidade, quando estava sob os cuidados da ex-patroa de Mirtes, Sari Corte Real, que o deixou sozinho no elevador. A Marco Zero conta que, ao longo da manifestação, a mãe de Miguel repetia a frase: “Uma vida inteira sem o meu filho”. Nas redes sociais, Mirtes escreveu: “Nesse dia, o que invadiu minha vida não foi só a tragédia, foi a brutalidade do racismo, da desigualdade, da impunidade. Miguel não caiu. Miguel foi deixado cair. E quem cometeu esse crime é uma mulher branca, rica, que deveria ter a empatia de cuidar do meu filho, porque me obrigou a trabalhar. Ela segue livre, estudando Medicina, vivendo sua vida em paz, enquanto eu coleciono noites insones e passos firmes por justiça”.
📌 Investigação
Com projeção nacional e milhares de visualizações nas plataformas de streaming, o “agronejo”, estilo musical que une tradição sertaneja a elementos de pop, funk e eletrônico, reforça a imagem que o agronegócio passou a investir – a de jovem, moderno e poderoso, buscando afastar percepções negativas associadas a problemas históricos como trabalho análogo à escravidão, grilagem de terra e relação com a ditadura militar. A Repórter Brasil mergulha na relação entre o gênero sertanejo das últimas duas décadas e o reposicionamento do agronegócio no imaginário social. Por meio do estilo, o setor encontrou uma forma eficaz de comunicar que o agro é sinônimo de lucro e status.
🍂 Meio ambiente
Em cinco anos, a exploração de petróleo na Foz do Amazonas pode emitir até 4,7 bilhões de toneladas de gás carbônico, de acordo com um levantamento do Instituto ClimaInfo, com base nos dados da Petrobras e da Empresa de Pesquisa Energética. Embora o governo federal e a petroleira afirmem que a atividade seja essencial para financiar a transição energética, atualmente apenas 0,06% dos recursos oriundos do petróleo tem esse fim. O Vocativo destaca que, ainda neste mês, a Agência Nacional do Petróleo (ANP) pretende leiloar concessões permanentes que incluem 47 blocos na Foz do Amazonas. O Ministério Público Federal, no entanto, recomendou que os blocos da região sejam retirados da oferta, considerando os riscos climáticos e socioambientais, além da revisão do Estudo de Impacto Ambiental e ressalta a falta de consulta prévia às comunidades tradicionais que serão afetadas.
📙 Cultura
“O funk não pede permissão para ocupar espaço. Ele fala alto, dança na rua, viraliza sem passar por gravadora. É cultura que não passa pelo filtro da academia ou da elite cultural. E por isso é tratado como ameaça”, afirma o comunicador e educador popular Jota Marques. Em entrevista ao Canal MyNews, ele falou sobre a prisão do cantor MC Poze do Rodo na semana passada e a estratégia política de criminalização do funk por representar a identidade e o protagonismo de jovens periféricos. “O mesmo funk que querem censurar nas favelas toca sem problema nas boates mais caras da cidade, nas festas dos condomínios de luxo, nos casamentos milionários. O problema nunca foi o ritmo… é quem canta, de onde canta e o que representa. Quando sai da boca do favelado, incomoda. Quando vira trilha sonora da elite, é só diversão. Essa seletividade é o retrato do Brasil.”
🎧 Podcast
“Houve sempre uma negligência de Estado para oferecer acesso de indígenas a condições mais apropriadas, especialmente preservando suas culturas.” Márcia Machado é professora e pesquisadora da Faculdade de Medicina da Universidade do Ceará e é a convidada do “Papo Preto”, produção da Alma Preta, sobre as consequências das desigualdades na saúde para as crianças indígenas. Atualmente, a mortalidade infantil entre essa população é mais que o dobro da registrada entre crianças não indígenas. “As disparidades acontecem principalmente pelas questões históricas de ocupação de território, e as crianças são as afetadas”, afirma.
👩🏽🏫 Educação
Com o crescimento da oferta de Ensino a Distância (EaD), que tem ultrapassado a modalidade presencial em muitas instituições, sobretudo as privadas, o governo federal publicou o Decreto 12.456 no mês passado para regulamentar a modalidade. Em artigo no Conversation Brasil, a pesquisadora e reitora da Universidade Federal do Sul da Bahia, Joana Angélica Guimarães da Luz, analisa a medida: “Apesar dos avanços na regulamentação, o decreto continua a tratar a EaD como um serviço de menor relevância oferecido pelas instituições, quando deveria estar centrado na evolução e na qualidade do serviço. Com o atual avanço tecnológico, e uma capilarização cada vez maior de universidades públicas espalhadas por todas as regiões do Brasil, já existem condições para que haja uma rede pública de EaD mais bem fundamentada.”