O agro na escola de agricultura da USP e os carpinteiros da Amazônia
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🔸 “Eu preciso de gente para expulsar posseiro, matar índio, derrubar a árvore, vender agrotóxico.” A fala do professor Antônio Almeida é sobre a Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), da Universidade de São Paulo (USP). O Joio e O Trigo revela como ela se tornou um centro de formação ideológica e técnica alinhada ao agronegócio. As repúblicas estudantis funcionam como redes de recrutamento e perpetuação de valores conservadores, racistas e hierárquicos. “Contra as mulheres, contra os negros, contra os ambientalistas, contra a esquerda…”, explica Almeida, que é docente do Departamento de Economia, Administração e Sociologia (LES) da instituição. Empresas como Bayer, Syngenta e Cargill financiam pesquisas, cursos e bolsas, muitas vezes com cláusulas de confidencialidade. Já o estudo da agroecologia sofre boicotes e subfinanciamento. Há ainda relatos de estudantes negros e periféricos sobre casos de violência psicológica e racismo institucional. “Eu vi todo tipo de coisa na minha vida, eu vi tudo. Mas a violência esalqueana foi uma coisa que me impactou de verdade, porque é algo que mexe com a sua sanidade”, diz a estudante Camila, vítima de racismo na Esalq.
🔸 Áudios antivacina e com fakes sobre a Covid-19 voltaram a circular nas últimas semanas em grupos de WhatsApp. As mensagens falam em mortes hospitalares ocultadas, alegam que a vacina contra a Covid-19 estaria sendo misturada à da gripe e exaltam o “tratamento precoce”. Tudo é falso, mostra a Lupa. O Ministério da Saúde afirma que as vacinas da gripe e da Covid-19 têm composições distintas. A Pfizer, citada nos áudios, não produz imunizante contra influenza no Brasil. Já as vacinas contra a Covid-19 foram responsáveis por evitar quase 20 milhões de mortes, segundo estudo do Imperial College London. Em tempo: os casos da doença caíram 68,4% no primeiro trimestre de 2025 em relação ao mesmo período de 2024. As mortes diminuíram 60%.
🔸 Nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro (PL) segue em campanha para que o governo Trump aplique a Lei Magnitsky contra Alexandre de Moraes, sob acusação de censura e abuso de poder. O Aos Fatos detalha a empreitada do filho de Jair Bolsonaro (PL) e explica como funciona a lei que ele mira. A norma permite sanções contra estrangeiros por corrupção ou violações de direitos humanos, mas especialistas apontam que não há evidências que justifiquem o uso no caso brasileiro. “A aplicação dependeria da existência de evidências concretas de violação de direitos humanos ou corrupção grave, e não apenas de desacordos políticos ou decisões judiciais impopulares”, afirma o advogado Bruno Teixeira, doutor em direito internacional pela USP.
🔸 O Conselho de Ética da Câmara aprovou a cassação do mandato de Glauber Braga (PSOL-RJ), deputado acusado de agredir o militante do Movimento Brasil Livre (MBL) Guilherme Costenaro. Sob gritos de “vergonha” da bancada do PSOL, a votação terminou com 13 votos a favor da cassação e cinco contrários. Em entrevista à Agência Pública, Braga afirma que Costenaro era “pago e ganha apoio político para fazer isso”. Depois de uma série de provocações em eventos do mandato do deputado, o militante estava na Câmara quando insultou a mãe de Braga. “Tratou-se de uma reação a um sujeito que por sete vezes foi me atacar, me provocar em espaços públicos onde eu estava fazendo alguma atividade do mandato”, diz o parlamentar, que prometeu fazer “greve de fome”, além de recorrer à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ao Supremo Tribunal Federal (STF). Braga diz ainda que é alvo de perseguição política liderada por Arthur Lira, que teria interesse em retirá-lo do Congresso por denúncias sobre o orçamento secreto.
📮 Outras histórias
A construção de um conjunto habitacional no bairro do Monteiro, zona norte de Recife, está parada há dois meses. A obra foi prometida como compensação pela desapropriação de 51 imóveis para viabilizar a Ponte Engenheiro Jaime Gusmão, inaugurada em 2024. Ao todo, 14 famílias aguardam apartamentos no local e recebem auxílio-moradia de R$ 300. A Marco Zero conta que a entrega das novas moradias, prevista inicialmente para abril de 2025, foi adiada para o segundo semestre – sem nenhuma justificativa da prefeitura. “Já faz meses que a prefeitura não vem até a comunidade dar uma satisfação”, reclama Juciara Maria, moradora do Monteiro e uma das pessoas que aguardam por uma das unidades no habitacional.
📌 Investigação
A produção e o tráfico de drogas estão presentes em 54 das 75 localidades fronteiriças da Amazônia, situadas nas áreas limítrofes de Brasil, Colômbia, Equador e Peru. Em 72% das 54 localidades analisadas, há presença de grupos criminosos que gerenciam o narcotráfico em seus territórios, principalmente o Los Comandos de la Frontera, da Colômbia, e o Comando Vermelho, do Brasil, como revela a Sumaúma, em parceria com OjoPúblico, La Silla Vacía e Código Vidrio. Além do tráfico de drogas, esses grupos controlam outras atividades ilícitas, como o comércio ilegal de madeira. A violência na região também aumentou. Em nove dos dez territórios com maiores taxas de homicídio, houve um crescimento de casos entre 2019 e 2023. As localidades estão situadas no Brasil, Colômbia e Equador com presença de grupos criminosos ligados ao narcotráfico, e as taxas superaram também as médias nacionais de cada país.
🍂 Meio ambiente
“Risco real de colapso ambiental e urbano.” A definição foi aplicada ao projeto do Porto Meridional no município de Arroio do Sal (RS) pelo memorial técnico do Movimento Unificado em Defesa do Litoral Norte. Segundo o Matinal, a zona costeira do estado é patrimônio nacional e abriga 80% das espécies de cetáceos da costa brasileira, além de aves migratórias vindas da Antártica, do Caribe e da Ásia. O documento aponta também a presença de 61 sítios arqueológicos na região. Apesar das críticas, o empreendimento tem avançado sem qualquer audiência pública ou consulta comunitária formal. “Projetos de grandes impactos socioambientais precisam ser discutidos com os setores da sociedade que serão afetados. A proposta do porto carece de clareza sobre a quem realmente interessa e como contribuirá para a sociedade”, afirmou a professora Heleniza Ávila Campos, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), ouvida pelo memorial técnico.
📙 Cultura
Francês de nascimento e santista por adoção, Maurice Legeard foi uma peça-chave para o cenário cultural de Santos (SP), que desde 2015 tem o selo de Cidade Criativa da Unesco. Nascido em Paris no dia 9 de abril de 1925, o diretor teatral chegou à região ainda na infância. Seu amor pelo cinema foi essencial para a fundação da Cinemateca de Santos, promovendo a sétima arte e introduzindo produções e gêneros cinematográficos internacionais para o público local. O Juicy Santos resgata a trajetória de Legeard, que completaria 100 anos nesta semana. O cineasta se dedicou a democratizar o acesso ao cinema, reforçando sua importância como forma de educação. Seus esforços para promover uma programação cultural diversificada e de qualidade não se limitaram apenas ao cinema.
🎧 Podcast
Além de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes é professor de Direito Constitucional no Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP) e avalia as transformações nos debates em relação à Corte nas salas de aula. No “Sem Precedentes”, produção do Jota, o magistrado afirma que há um interesse cada vez maior dos estudantes pelo papel da Corte e pelas indicações dos presidentes da República às vagas de ministros. “A gente vê que os alunos perguntam sobre isso, sobre o ativismo, sobre o que se deve fazer, por que o tribunal tem este, aquele papel e aí, obviamente, listam decisões que foram erradas ou que poderiam ter sido diferentes.”
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
“Nunca estudei em escola. Tudo o que fazemos e aprendemos foi aqui na nossa região. Nunca trabalhamos de empregado e de carteira assinada, mas sempre sobrevivemos da floresta”, conta o carpinteiro Edson Rodrigues. Nos cursos das águas amazônicas, ele é um dos mestres carpinteiros que lutam para a “arquitetura de rio” não morrer, buscando preservar a estética e a identidade cultural das casas ribeirinhas. O Amazônia Vox narra como o projeto Pallas tem atuado para valorizar o saber desse ofício tradicional. A iniciativa é uma coleção de mobiliário feita de forma colaborativa entre grandes designers nacionais e carpinteiros amazônicos com objetivo dar visibilidade a esses saberes e gerar renda para os mestres. Além disso, o projeto pretende financiar ações para beneficiar comunidades ribeirinhas e promover a difusão de técnicas de carpintaria.