A agricultura na crise climática e as visitas guiadas a cemitérios
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🔸 Num leilão ontem, o governo federal comprou 263 mil toneladas de arroz importado. A medida vem na esteira da devastação das lavouras do Rio Grande do Sul, responsável por 70% da produção de arroz no país. Em gráficos, o Nexo mostra outros cultivos afetados pelas enchentes ao longo de maio. Em 2022, o Rio Grande do Sul foi o quarto maior produtor de soja do Brasil, atrás de Mato Grosso, Goiás e Paraná. O estado também responde por 64% da produção de aveia, 60% de azeitonas e 48,8% de trigo.
🔸 A crise climática afeta a produção de alimentos orgânicos na zona rural de São Paulo. Ondas de frio e calor, além dos períodos de chuva intensa, demandam dos agricultores adaptação – mas falta dinheiro para isso. “A gente perde 30% das mercadorias. Se tivéssemos condições, plantaríamos em estufas e, se tivéssemos um local de refrigeração, não perdíamos tanto alimento”, afirma o produtor Antonio Camargo Leme Filho, o Toninho, que, desde 2021, cultiva coentro, alface, couve, almeirão e salsinha no bairro de Chácara Santo Amaro, distrito de Parelheiros. A Periferia em Movimento conta que programas municipais, como o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA) e o POT Agricultura, oferecem algum suporte, mas não são suficientes para cobrir todas as necessidades. Na Terra Indígena Tenondé Porã e em assentamentos do MST no extremo sul de São Paulo, técnicas como a agrofloresta vêm sendo adotadas para mitigar os impactos, promovendo o equilíbrio ambiental e a recuperação de áreas degradadas.
🔸 “O governo não está fazendo nada na reforma agrária. É uma vergonha.” A afirmação é de João Pedro Stédile, dirigente e fundador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Em entrevista a O Joio e O Trigo, ele critica duramente o governo federal: “Já perdi a paciência de ouvir ministro dizer que não há incompatibilidade entre a agricultura familiar e o agronegócio. O agronegócio usando agrotóxico é incompatível com o vizinho de dez hectares que não usa, porque ele vai contaminar, vai matar a biodiversidade”. Depois de 14 meses do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Stédile diz não ter visto progressos significativos e lembra que o agronegócio é altamente financiado pelo Estado e pelo capital financeiro. Lamenta, porém, que esses investimentos não beneficiam a maioria da população.
📮 Outras histórias
Morador da Maré, conjunto de favelas na zona norte do Rio de Janeiro, Charles Cunha é apaixonado por bicicletas desde criança. Além de ser um meio de transporte útil, Charles vê essa paixão como uma aliada do meio ambiente, da saúde e até mesmo da renda. Há mais de 20 anos, ele trabalha com consertos de bicicleta na Vila dos Pinheiros em uma loja que herdou do pai, assim como o ofício. O Maré de Notícias ressalta a importância das bicicletas como transporte para a redução da poluição do ar e destaca a necessidade de mais ciclovias na capital fluminense para garantir segurança dos ciclistas e incentivar seu uso.
📌 Investigação
Embora o marketing de apostas para menores de idade seja proibido por lei, crianças e adolescentes no Kwai estão expostos a “caça-níqueis gratuitos” e a jogos que prometem recompensas em dinheiro. Com uma verificação etária falha, a plataforma também lucra com anúncios de cassinos e aplicativos que afirmam garantir renda fácil sem assegurar que esse conteúdo seja entregue apenas a adultos, como revela o Núcleo. Uma dessas publicidades irregulares é do site Betse, mantido pela Kuaishou – empresa dona Kwai. Este, por sua vez, com 60 milhões de usuários brasileiros, pretende operar suas “bets” próprias no país.
🍂 Meio ambiente
“A gente não consegue mais achar maria preta [o marisco] , ostra, caranguejo. O aratu sumiu, e o pouco que ainda resta é o sururu. Na maioria das vezes, a gente já tira de dentro da lama”, afirma a pescadora e marisqueira Fátima Lima, moradora de São Tomé de Paripe, bairro de Salvador (BA). A dificuldade de encontrar esses animais é consequência da queda de soja durante transporte na Estrada do Derba. O Entre Becos detalha os danos ambientais e sociais causados pelo derramamento de grãos, desde o prejuízo na pescaria até o cheiro forte que afeta o dia a dia dos moradores da região.
📙 Cultura
As vagas para uma visita guiada ao Cemitério da Consolação, em São Paulo, acabam em menos de 15 minutos, segundo Thiago de Souza, advogado, sambista, roteirista e idealizador do projeto “O Que Te Assombra”, que divulga a cultura cemiterial e histórias sobre o tema. A revista piauí acompanhou um itinerário específico, chamado “Consolação e suas Vozes”, em que Thiago apresentou relatos e fez interpretações sobre a origem do cemitério, sua relação com a formação da capital paulista e os mortos célebres sepultados no local. “Tem uma frase que eu detesto: ‘o cemitério é um museu a céu aberto.’ Parece que é preciso passar esse verniz para justificar a importância do cemitério. Claro que tem um valor museológico, mas o cemitério por si só tem sua importância”, afirma o guia.
🎧 Podcast
Na onda de privatizações, o saneamento básico também é uma das vítimas, como a aprovação da concessão da Sabesp à iniciativa privada pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp), em dezembro de 2023. O “Cena Rápida”, produção do Desenrola e Não Me Enrola, conversa com Helena Maria, do Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo (Sintaema), e Renata Furigo, coordenadora geral do Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento (Ondas), para entender a relação entre saneamento básico, saúde e habitação. O episódio também explica como a privatização dos serviços de água e esgoto impacta a qualidade de vida da população.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Em uma cidade em que uma família pode mudar as eleições, a população fica totalmente no escuro sobre as notícias locais. Este é o caso de Pirapora do Bom Jesus, cerca de 60 km de São Paulo, onde os moradores têm mais acesso à informações sobre a capital paulista do que ao que acontece há algumas quadras. Em reportagem multimídia especial, a Agência Mural mergulha no cotidiano de quem vive em um deserto de notícias e nos impactos da falta de jornalismo local, como dificuldade de acessar direitos básicos, de fiscalizar o poder público e de combater notícias falsas. Até mesmo a preservação do patrimônio cultural municipal é afetada pela ausência de um meio de comunicação na cidade.