A 'adultização' na Câmara e o impacto da IA na relação médico-paciente
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🔸 O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o governo dos EUA cancelou uma reunião virtual marcada para amanhã com o secretário do Tesouro, Scott Bessent. O motivo: falta de agenda. Para o ministro, porém, a explicação é outra: ele afirma que a extrema direita é responsável por articular para impedir as negociações entre os países. Segundo o Metrópoles, Haddad mencionou diretamente o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que, morando nos Estados Unidos, vem articulando sanções ao Brasil em nome da proteção de seu pai, Jair Bolsonaro (PL), agora em prisão domiciliar. “O Eduardo publicamente deu uma entrevista dizendo que ia procurar inibir esse tipo de contato entre os dois governos, porque o que estava em causa não era a questão comercial, ele deixou claro isso em uma entrevista pública”, afirmou o ministro.
🔸 Falando em Eduardo… o filho de Bolsonaro disse esperar que Donald Trump anuncie novas sanções a autoridades brasileiras nas próximas semanas. A CartaCapital conta que ele deu entrevista ao “Financial Times” na qual afirmou que o presidente dos EUA tem “diversas possibilidades à mesa”, como “uma nova onda de cancelamentos de vistos e novas tarifas”. “Eu acredito que pode haver mais respostas fortes aqui dos Estados Unidos, provavelmente com sanções à esposa de Alexandre de Moraes, que é o braço financeiro dele. Ou, quem sabe, novas revogações de vistos de aliados dele”, completou. Eduardo disse ainda que vai acionar políticos de extrema direita em outros países, como o deputado português André Ventura, líder do partido Chega.
🔸 Falando em Trump… O presidente pediu à China para quadruplicar suas compras de soja do país. Os EUA anunciaram ontem que vão estender a pausa nas tarifas sobre as importações chinesas por mais 90 dias. A China é o maior comprador de soja do mundo – e o acordo com os EUA pode fazer o produtor brasileiro ter prejuízos, informa o The AgriBiz. “Não é mais uma questão de ‘se’, mas de ‘quando’”, afirma o consultor Carlos Cogo. Segundo ele, o preço da soja brasileira hoje é US$ 12,50 a tonelada e, se o cenário mudar, pode cair para cerca de US$ 10,50 a tonelada.
🔸 A pauta da “adultização” chegou ao Congresso. Depois que o influenciador Felca denunciou a sexualização precoce de adolescentes na internet, o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciou que vai pautar nesta semana projetos de proteção de crianças na internet. O Notícia Preta detalha o caso: na denúncia, Felca acusou o criador de conteúdo Hytalo Santos, de usar a imagem de menores em contextos sexualizados para ganhar dinheiro. Os conteúdos ao lado de adolescentes são a marca de Hytalo, que mostra a rotina dos jovens no Instagram como um reality show. As meninas aparecem performando danças sensuais, dizendo falas de duplo sentido e se relacionando com outros adolescentes.
🔸 A propósito: com mais de 27 milhões de visualizações em quatro dias, o vídeo de Felca criou o “momentum” político que o governo aguardava para tentar avançar o PL 2.628/2022, que prevê regras para proteger crianças e adolescentes no ambiente digital. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que vinha garantindo nos bastidores que não colocaria o texto em votação de forma apressada, mudou de tom após a repercussão. O Jota explica que Motta busca uma pauta positiva depois de se fragilizar politicamente com o motim bolsonarista na Câmara, na semana passada. Já no Planalto, a movimentação pró-votação deixou de estar restrita à Secretaria de Relações Institucionais e passou a envolver outros setores, com avaliação de que a oposição terá dificuldade de se contrapor a um projeto com esse apelo social.
📮 Outras histórias
Famílias do acampamento Marielle Franco, em Lábrea (AM), denunciaram a instalação de um posto de guarda privada armada dentro de terras arrecadadas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A área fica nos limites da Fazenda Palotina, marcada pelo histórico de agressões, torturas e mortes. O Varadouro recebeu relatos de lideranças do acampamento sobre o posto instalado no território. A segurança é feita pela Bastos Vigilância, contratada pela fazenda, e inclui controle de entrada e saída, drones e disparos noturnos. Em dezembro de 2024, seguranças da mesma empresa destruíram barracos e expulsaram famílias de áreas de coleta de castanha sem presença judicial. Desde 2019, mais de 200 famílias reivindicam assentamento na área, enquanto a família Zamora, proprietária da fazenda, alega posse.
📌 Investigação
O Senado mais que dobrou os projetos de lei que atacam direitos LGBTQIA+ em sete meses, passando de três para oito entre novembro de 2024 e junho de 2025. Levantamento da Agência Diadorim revela que nenhum dos textos busca ampliar a proteção dessa população, e cinco das oito propostas focam em restringir direitos de pessoas trans. Os projetos em geral defendem o sexo biológico como critério para acesso a direitos e vetam linguagem inclusiva na educação. Os cinco PLs com conteúdo anti-LGBTQIA+ apresentados em 2025 são de apenas dois senadores — Jorge Seif (PL-SC) e Cleitinho (Republicanos-MG). A cientista política Rayani Mariano, professora da Universidade Federal de Goiás, ressalta: “Como o PL tendo sido o partido que mais cresceu em número de cadeiras no Senado, já traziam essa tendência de um aumento do conservadorismo nessa Casa”.
🍂 Meio ambiente
Os tarifaços impostos por Trump podem atrasar a transição energética global de forma significativa. É o que aponta a consultora McKinsey. Ao encarecer tecnologias limpas e favorecer o uso do gás natural, o avanço das políticas protecionistas dos Estados Unidos e da União Europeia (UE) fará com que a mudança leve mais tempo e seja mais cara. A Reset destaca que, em um cenário de altas taxas, a participação das renováveis na matriz energética dos EUA pode ficar estagnada em 49% após 2035. Sem o tarifaço, o percentual seria de 69%. Na UE, a meta de 86% de energia renovável seria alcançada apenas em 2037 – dois anos mais tarde do que o previsto. “Desenvolvimentos geopolíticos e tecnológicos estão criando potenciais rupturas, deslocando o foco de uma rápida transição energética para outras prioridades, incluindo a corrida pela liderança em IA generativa, o aumento dos orçamentos de defesa nos países europeus e novas alianças comerciais”, diz a análise.
📙 Cultura
Aos 86 anos, Júlio Gonçalves transforma fragmentos de papel em obras de arte. Funcionário mais antigo da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe), autodidata e gráfico por formação, ele reutiliza resíduos gerados pelo parque gráfico para criar peças inspiradas no processo do papel machê. A Marco Zero conta que a iniciativa deu origem, em 2017, à Galeria Reciclada, projeto que ressignifica resíduos e hoje conta com uma equipe dedicada dentro da Cepe. A arte sustentável de Gonçalves influencia e envolve seus colegas de trabalho, que também ministram oficinas para difundir técnicas criativas com materiais reciclados. “A inspiração vem por vários caminhos. De repente, uma forma qualquer pode dar a partida e eu começo a desenhar, o primeiro desenho já inspira outros, até chegar o que eu quero. Pelo meu desejo, pelo meu estilo, ele sempre tem uma base geométrica muito forte”, explica o artista.
🎧 Podcast
O poder da escrita para elaborar o luto une o ensaísta José Henrique Bortoluci e a poeta Julia de Souza numa conversa sobre a falta da presença paterna. Gravado durante a Feira do Livro 2024 e mediado por Paulo Roberto Pires, editor da revista “Serrote”, o episódio “Meu Pai e Eu”, do “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, apresenta os autores refletindo sobre seus livros “O Que É Meu” (Fósforo, 2023), de Bortoluci, e “John” (Âyiné, 2023), de Souza, que partem de suas experiências pessoais para narrar a doença e a perda dos pais. “Parece que eu encerrei um processo de aproximação com o meu pai depois da morte. Eu me reaproximei através da escrita”, diz a escritora.
🧑🏽⚕️ Saúde
A adoção da inteligência artificial (IA) na saúde levanta dilemas éticos que vão do distanciamento na relação médico-paciente à indefinição sobre responsabilidades em caso de erros. Pesquisadores da Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB) publicaram na revista “Bioética” um artigo que traz um panorama sobre estudos realizados nos últimos cinco anos na intersecção inteligência artificial, bioética e saúde. Segundo a Agência Bori, o trabalho identificou riscos como a redução do pensamento crítico e o “paternalismo de máquina”, quando decisões automatizadas se sobrepõem ao julgamento humano. “Quem será o responsável por um diagnóstico, exame ou situação em que o paciente, com problema de saúde, enfrenta? Quem se responsabiliza pelo diagnóstico ou pela forma como a IA interpreta o exame?”, questiona Sérgio Yarid, um dos autores do artigo. Eles alertam para a ausência de legislação específica no Brasil e defendem incluir o debate sobre IA e bioética na formação dos profissionais de saúde.