O acordo secreto da Braskem em Maceió e os influenciadores da Rocinha
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
Oi, gente, bom dia!
Esta é a última edição da Brasis em 2023. Vamos entrar em recesso e voltamos em janeiro.
Este foi um ano de consolidação da nossa newsletter: se no primeiro trimestre fizemos uma pesquisa para conhecer melhor nossos leitores e, em maio, apresentamos o projeto como um case no Festival 3i, em setembro, comemoramos nosso primeiro aniversário.
Foi também um ano desafiador, com mudança de governo, acirramento da crise climática e da segurança pública do país, entre outras pautas urgentes. Mas o número de associadas à Ajor cresceu e, com isso, a Brasis ampliou seu repertório, com olhares ainda mais diversos para as notícias do dia a dia.
Em 2024, seguiremos por aqui, a partir de 9 de janeiro, sempre com conteúdos pautados pelas perspectivas plurais que nos trazem organizações de jornalismo digital de todas as regiões do país.
Obrigada a vocês pela leitura, bom fim de ano e até já,
Audrey Furlaneto
editora
🔸 O governo conseguiu colocar em prática muitas de suas propostas de políticas públicas, como a retomada do Bolsa Família, mas não sem falhas de comunicação e declarações contraditórias. É algo que se deu também com a promessa do combate ao desmatamento e transformações na política externa. O Aos Fatos faz uma retrospectiva das principais mudanças promovidas pelo governo em 2023 e mostra como cada uma foi alvo de desinformação nas redes. No caso do Bolsa Família, por exemplo, o programa foi retomado em março com um valor mínimo de R$ 600, mas a exclusão de beneficiários a partir da atualização do cadastro único gerou notícias falsa. Na verdade, o número de pessoas que recebem o benefício não mudou de forma significativa do governo Bolsonaro para cá: passou de 21,6 milhões de famílias para 21 milhões.
🔸 A Braskem se tornou alvo de operação da Polícia Federal, que investiga os crimes relacionados à exploração de sal-gema em Maceió (AL). Existem indícios de que a mineradora não seguiu os protocolos de segurança recomendados tanto pela literatura científica quanto pelos planos de lavra, cujo objetivo é garantir a estabilidade das minas e a segurança da população nos bairros afetados. Na Marco Zero, Géssika Costa, fundadora do Olhos Jornalismo, conta que o Ministério Público Federal acompanha o caso, que envolve acusações como poluição qualificada e usurpação de recursos da União. Desde 29 de novembro, Maceió está em situação de emergência devido ao risco de desabamento da mina 18 da Braskem.
🔸 A propósito: o acordo que a mineradora assinou com moradores tem cláusulas abusivas que deixam o caminho aberto inclusive para processos contra as próprias vítimas do desastre ambiental. O Intercept teve acesso exclusivo ao documento em que a Braskem quita as dívidas pelos danos causados, e os moradores se comprometem a não divulgar as cláusulas. Sob o nome de “Instrumento Particular de Transação Extrajudicial, Quitação e Exoneração de Responsabilidade”, o acordo enfatiza que a Braskem indenizou quem perdeu seus imóveis “por mera liberalidade”, ou seja, que isso não implica em confissão de culpa.
🔸 Vítima de estupro, uma adolescente teve o direito ao aborto legal negado em Santa Catarina. Nesta semana, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) garantiu o direito, que havia sido suspenso por liminar do Tribunal do estado. O ministro do STJ considerou o caso um “flagrante constrangimento ilegal”, apontou “violência institucional e psicológica”, “omissão por parte das instituições” e “assédio processual”. O Portal Catarinas detalha o caso e conta que o pai da menina tentou barrar o direito e até o suspeito do estupro buscou ingressar no processo para impedir o aborto – mas não só. Uma organização antiaborto teria vazado informações do caso para barrar procedimento. Em tempo: a judicialização visa impedir abortos legais, mesmo com o desejo expresso das vítimas.
📮 Outras histórias
“Realizei os meus desejos, graças a Deus. Consegui não só trabalho, como minha casa própria. Ela está em obra, mas é minha”, diz Richelly Ferreira, de 25 anos, moradora da Nova Maré, uma das 16 comunidades que formam o Complexo da Maré, na zona norte do Rio de Janeiro. No início do ano, o Maré de Notícias entrevistou um morador de cada favela para saber seus desejos para 2023. Agora, a reportagem volta a cada um deles para ouvir suas conquistas e os sonhos para 2024.
Crias da Rocinha e influenciadores: Bruna Dias, Salemm, Danrley, Ruan Juliet, VT e Bruno Rock mostram a favela na internet a partir do olhar de quem vive na comunidade, na zona sul do Rio. O Fala Roça conta que, juntos, eles somam mais de 2,2 milhões de seguidores no Instagram e 43,2 milhões no TikTok. “Nunca imaginei que chegaria a tanto. Tudo começou compartilhando para a minha bolha a minha transição capilar. Hoje, falo da obra na casa nova, dou dica de produtos, mostro alguns momentos do meu dia a dia na favela”, conta Bruna Dias, de 28 anos, moradora da Rua 1. Ela compartilha conteúdos de beleza e autoestima sob a perspectiva de uma mulher negra da Rocinha.
📌 Investigação
Envolvido na Operação Escudo, o policial Ivan Pereira, sargento da Rota, força especial da Polícia Militar de São Paulo, tem um histórico de participar em ocorrências com resultado de morte, inclusive com a abertura de investigações por parte da Polícia Civil e do Ministério Público sobre possíveis excessos cometidos, como apurou a Alma Preta. O agente nunca foi julgado e teve dois processos contra ele arquivados. Em duas situações, ele e outros agentes da Rota mataram um grupo de três homens e em outra situação, um jovem. Os casos aconteceram em contextos similares, com perseguições de carro, nos anos de 2007 e 2008.
🍂 Meio ambiente
Uma das espécies com distribuição mais restrita em todo o mundo, o cinzeiro-pataguá vivia ao menos em quatro municípios de Santa Catarina, mas hoje cerca de 250 exemplares seriam encontrados apenas em pontos isolados no Parque Nacional de São Joaquim, uma área densa e nebulosa de Mata Atlântica. O Eco explica que a planta foi ignorada por décadas e agora pesquisadores de diversas instituições correm para que ela não seja extinta em decorrência do avanço da agropecuária, da urbanização e de espécies exóticas invasoras, além do aquecimento do planeta.
📙 Cultura
Ao longo de dez anos, o Festival Concreto reuniu 1.036 artistas brasileiros e internacionais para transformar a cena da arte urbana em Fortaleza (CE). A exposição “Festival Concreto 10 Anos”, no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc), mergulha na história do evento, e destaca expografias, cenografias, fotografias e obras que moldaram a memória do projeto. A mostra reúne momentos icônicos de cada edição e explora o universo das experiências visuais, como conta a Eco Nordeste. “Quando se fala de arte urbana, já se sabe que tem gente que vive disso e que um museu como o Mauc abre espaço para uma exposição. Não precisa ir embora para São Paulo, e isso já é uma vitória”, afirma o artista visual e criador do festival, Narcélio Grud.
🎧 Podcast
Da agricultura à farmacologia, o conhecimento científico e saberes tradicionais podem se aliar para melhorar a qualidade de informações sobre um tema e consequentemente a vida da população. O último episódio da temporada sobre colonialismo e racismo do “Ciência Suja”, produção da Rádio Guarda-Chuva, conversa com pesquisadores de diversos povos indígenas, mostrando como eles usam a sabedoria e, também, estudos acadêmicos para aprofundar conhecimentos. O episódio também traz os desafios dessa aproximação.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Cozinhar juntos, enfeitar a casa e ouvir músicas são algumas das tradições que as famílias mantêm para passar tempo de qualidade com as crianças no período do Natal e fugir do consumismo e da correria dos centros comerciais. Ao Lunetas a bióloga Camila Echeli conta como repassou aos filhos a tradição de todos os anos montar a árvore de Natal a partir de galhos secos, como fazia com seus pais durante a infância: “Reservamos um domingo para isso. Vamos encontrar o galho, cobrir ou pintar e pegar os enfeites guardados”.