Os abrigos no RS e a violência de grileiros contra crianças
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🔸 O desastre climático no Rio Grande do Sul já deixou 107 mortos, 136 desaparecidos e 428 municípios afetados. Com a previsão de chuva para os próximos dias, a situação pode voltar a se agravar, sobretudo na serra, na região metropolitana de Porto Alegre e no litoral norte, onde há riscos de deslizamento. Entre hoje e segunda-feira, áreas já castigadas nas últimas semanas, como os Vales do Caí, do Taquari e a região metropolitana da capital, voltarão a ser atingidas por fortes chuvas, informa o Sul21. “Nós vamos viver ainda uma situação bastante crítica nos próximos dias”, afirmou o governador Eduardo Leite (PSDB). Segundo ele, ao todo, 67.563 pessoas estão distribuídas em mais de 400 abrigos, que devem ser mantidos por longos períodos. “Vamos procurar melhorar a estrutura desses locais inclusive com a instalação de divisórias para garantir uma maior intimidade para as famílias”, completou. Depois de denúncias de abuso sexual nos abrigos, seis pessoas foram presas. O Matinal conta que a prefeitura da capital anunciou a criação de um abrigo emergencial exclusivo para mulheres e crianças.
🔸 Depois de ser avistado sozinho sobre um telhado de zinco, um cavalo mobilizou uma operação de resgate ontem em Canoas. Não se sabe quanto tempo Caramelo, como foi batizado, ficou ilhado, mas o planejamento para salvá-lo começou ainda na quarta-feira. Uma equipe de veterinários levou uma hora de bote até chegar ao local onde estava o animal. Lá, ele foi sedado e, deitado, transportado até a terra firme. O Agora no RS reúne imagens e um vídeo do resgate, celebrado publicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e pela primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja.
🔸 “Não conseguimos parar a chuva, mas podemos nos preparar e nos adaptar para, quando ela vier, não impactar dessa forma catastrófica”, afirma Giovanni Dolif, meteorologista do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Em entrevista ao Ambiental Media, ele explica por que as chuvas no Rio Grande do Sul foram tão intensas – algumas áreas cuja média de precipitação para maio fica entre 150 e 180 mm receberam mais de 400 mm de chuva somente nos primeiros cinco dias deste mês – e lembra que os oceanos mais quentes estão contribuindo para fortalecer a massa de ar quente que impede as frentes frias de “subirem” para o restante do país.
🔸 “Foi um misto de choque com consternação. Eu trabalho nesse prédio há 39 anos. Olhava para a foto de 1941 e não acreditava na possibilidade de a água entrar no nosso prédio de novo. É chocante.” Telmo Flor, de 64 anos, diretor de redação do Correio do Povo mirava o retrato da enchente histórica no Rio Grande do Sul, quando o parque gráfico do jornal foi inundado pelas cheias no estado. Depois, foi a vez de o prédio da publicação ser tomado pela água. O periódico deixou de circular no formato impresso, mas resiste na versão digital. A revista piauí narra a vida do diretor de redação na última semana e conta como a equipe vem trabalhando sob condições extremas.
🔸 As enchentes arrasaram as lavouras de arroz orgânico do Movimento Rural dos Trabalhadores Sem Terra (MST) no Rio Grande do Sul. O plantio, que costuma ocorrer em meados de setembro, já havia sido atrasado em 2023, por causa das enchentes na região metropolitana de Porto Alegre. Agora, relata a Repórter Brasil, parte das lavouras está ilhada em pontos mais altos de municípios submersos, e o maquinário foi totalmente perdido. Ainda não foi possível calcular o prejuízo. Isso porque o MST gaúcho decidiu voltar suas forças para produzir marmitas para os refugiados climáticos.
📮 Outras histórias
“Uma das coisas mais difíceis da Rocinha é viver com um salário mínimo”, afirma Jorge Ricardo, agente imobiliário, sobre a favela na zona sul do Rio de Janeiro. Segundo ele, só o aluguel de um quarto com banheiro pode custar R$600. Moradora da rua 1, Iris da Silva, de 56 anos, recebe um salário (R$ 1.412) e concorda. “Aqui as coisas são muito caras. Para alguém fazer algo pra você tem que pagar. Eu moro na parte alta. Faço mágica para conseguir sobreviver. Às vezes, eu peço ajuda a um e a outro porque falta. É muito difícil”, diz. O Fala Roça detalha os custos de vida na comunidade e lembra que “manter um salário que impede o crescimento econômico é ignorar a vulnerabilidade social”.
📌 Investigação
No Assentamento Dorothy Stang, em Anapu (PA), crianças têm medo de ser queimadas devido à violência da pistolagem promovida por grileiros, cuja principal tática é atear fogo no assentamento. A nova estratégia no conflito fundiário na região é queimar a escola da comunidade para dificultar a permanência na terra, revela a Sumaúma. No dia 10 de janeiro deste ano, a Escola Municipal de Ensino Fundamental Paulo Anacleto foi incendiada durante a noite. A unidade havia sido reconstruída pelos próprios assentados após outro incêndio criminoso, em julho de 2022. “Tenho medo deles porque é capaz de tocarem fogo nas crianças”, diz Maria Júlia, de 7 anos, que guarda apenas as lembranças do local onde brincava com os colegas.
🍂 Meio ambiente
“Tem contratos que foram assinados em inglês e os indígenas não têm noção do que pode estar lá”, diz a ministra Sonia Guajajara, do Ministério dos Povos Indígenas, sobre projetos de crédito de carbono em terras indígenas. Em entrevista à InfoAmazonia, ela afirma que a pasta está orientando as comunidades a aguardarem a regulamentação do mercado de carbono pelo Congresso. Os acordos que foram assinados sem acompanhamento dos órgãos federais, como a Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), estão sendo analisados pelo ministério para verificar possíveis violações de direito, como como aliciamento de lideranças, falta de consulta adequada e cláusulas abusivas.
📙 Cultura
Criado em Guaianases, distrito da zona leste de São Paulo, Luan Batista vai além de fazer uma fotografia, ele conta histórias visuais. Por meio de sua lente, retrata as complexidades das comunidades periféricas paulistanas. À Agência Mural Luan detalha que as coleções de revistas de moda e a cena ballroom são algumas das fontes de inspiração, além de pinturas. Para o fotógrafo, aprender sobre semiótica, área que estuda os símbolos, signos e sinais, ofereceu ainda mais profundidade e significado ao seu trabalho. Atualmente, o artista participa de duas mostras – a “Exposição Favela-Raiz”, dentro da instalação “Visão Periférica”, no Museu das Favelas, e o projeto “Seiva e Cidade”, no Edifício Misericórdia, ambas no Centro de São Paulo.
🎧 Podcast
Desastres ambientais, como o do Rio Grande do Sul, não acontecem de repente, estão ligados, sobretudo, à exploração do meio ambiente em busca do lucro e do crescimento econômico, rifando o planeta e os direitos das pessoas impactadas, como povos indígenas e comunidades tradicionais, normalmente vistas como um obstáculo para o “desenvolvimento”. O “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, reflete sobre a ideologia do progresso – materialmente inviável – e por que esse conceito continua guiando os governos, as empresas e as sociedades.
💆🏽♀️ Para ler no fim de semana
Após dez anos sem o escritor colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014), sua prosa sobre as profundezas da condição humana, com reflexões sobre o amor, a morte, a política e, principalmente, a solidão ainda ecoa. Em artigo no Le Monde Diplomatique Brasil, o pesquisador Bruno Fabricio Alcebino da Silva mergulha no sentimento de solidão presente nos escritos de García Márquez, “que permeia não apenas os personagens de sua obra, mas também os povos latino-americanos, que lutam contra opressão, desigualdade e violência”.