Mais um aborto legal impedido e a situação das barragens em MG
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🔸 Mais uma vez, uma menina de 13 anos, grávida após um estupro, é impedida de acessar o aborto legal e seguro, negado pela justiça de Goiás. Júlia (nome fictício) decidiu interromper a gestação quando estava com 18 semanas. Agora, depois de uma recusa do hospital e duas da justiça, caminha para a 28ª. A demora já fez com que ela cogitasse fazer o aborto por conta própria, colocando sua vida em risco. O Intercept Brasil teve acesso à decisão da desembargadora que impediu o aborto e outros documentos relacionados ao caso, que corre em segredo de justiça. O pai de Júlia, que tem sua guarda, abriu o processo para obrigá-la a seguir com a gravidez. O pai é apoiado por vários advogados, incluindo um ligado a um grupo antiaborto. Ele ainda questionou o próprio estupro – que, segundo ele, estava “pendente de apuração”. A lei brasileira, no entanto, considera estupro de vulnerável qualquer relação sexual com menores de 14 anos.
🔸 “Não terá impacto nenhum entre seguidores dele [Bolsonaro], por várias razões. Temos muitos mecanismos de proteção de nossas crenças, muitos estudos mostram que evidências que incriminam políticos de corrupção não tem impacto sobre apoiadores, porque eles vão olhar as evidências e dizer que elas são falsas”, afirma Nara Pavão, professora do departamento de ciência política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). O Nexo ouviu cientistas políticos para entender como o relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente no caso das joias pode afetar sua força política e prejudicar sua imagem diante de seus seguidores.
🔸 Após quatro anos do assassinato do adolescente João Pedro Matos Pinto, de 14 anos, durante uma operação conjunta da Polícia Federal e da Polícia Civil no Complexo do Salgueiro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, o Tribunal de Justiça do estado absolveu os três policiais civis envolvidos. João Pedro foi atingido com um tiro na barriga dentro da casa de parentes enquanto brincava com um primo. A Ponte ressalta que, para a juíza Juliana Bessa Ferraz Krykhtine, “ninguém consegue afirmar de onde partiu o único tiro que alvejou a vítima” e considerou que os policiais agiram em legítima defesa. A decisão é passível de recurso. A data da morte do adolescente passou, neste ano, a fazer parte do calendário oficial do estado do Rio de Janeiro como “Dia de Luta Jovem Preto Vivo”.
🔸 A propósito: o caso de João Pedro é um entre vários. Desde julho de 2016, 660 pessoas entre 0 e 17 anos foram baleadas no Grande Rio. Dessas, 295 foram vítimas fatais. O mapa “Futuro Exterminado”, do Fogo Cruzado, mostra que um em cada três dos jovens atingidos foi vítima de bala perdida. Eram crianças ou adolescentes que estavam a caminho da escola ou da padaria, brincando no quintal ou correndo com amigos. O levantamento também revela que quase metade (47,6%) foram atingidos durante operações policiais. “Uma política de segurança focada no confronto não protege nossos jovens”, aponta a plataforma.
📮 Outras histórias
Professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Tiago Zurck foi alvo de ofensas racistas por estudantes devido a sua adesão à greve feita por docentes e técnicos, encerrada nesta semana, após 65 dias. Na penúltima semana de paralisação, alunos da Ufal, sobretudo das áreas da saúde, se mobilizaram para manifestar sua oposição às pautas grevistas, criando um grupo no WhatsApp. A Mídia Caeté destaca que foram direcionados ataques aos servidores, com ênfase a Zurck, um homem negro que, em sua foto de perfil institucional, aparece com tranças nagô. “Baita cara de vagabundo”, escreveu um estudante. Também foram expostos os valores recebidos por ele, acessados através do Portal da Transparência do Governo Federal, em uma tentativa de intimidação.
📌 Investigação
Devido à barragem da usina hidrelétrica de Sobradinho, megaempreendimento de energia da ditadura militar na Bahia, pelo menos 72 mil pessoas foram obrigadas a deixar suas casas nas cidades de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado durante a década de 1970. Os descendentes e remanescentes da remoção forçada, porém, convivem com novas ameaças nas áreas reconstruídas. O especial “Sobradinho: uma saga sertaneja em dois tempos”, produção do Colabora, destrincha como esses sertanejos agora são impactados por grandes empreendimentos de energia eólica e mineração. Em São Gonçalo da Serra, inclusive, há presença de pinturas rupestres em algumas das serras, consideradas uma herança sagrada dos ancestrais indígenas, mas não há medidas de proteção do Estado a esses registros.
🍂 Meio ambiente
As três barragens de rejeitos classificadas em nível de emergência 3 – o nível máximo, definido pela legislação como “a ruptura é inevitável ou está ocorrendo” – estão em Minas Gerais, estado onde há 340 barragens, sendo 233 no Quadrilátero Ferrífero-Aquífero – que engloba as regiões de Belo Horizonte, Ouro Preto, Itabira e Conceição do Mato Dentro. Nessa área, pelo menos 107 barragens têm alto Dano Potencial Associado (DPA), classificação feita pela Agência Nacional de Mineração. O Projeto Preserva detalha um estudo feito por pesquisadores do Observatório de Barragens de Mineração, do grupo de pesquisa e extensão Educação, Mineração e Território, da Universidade Federal de Minas Gerais, que cruza os dados de dano potencial aos níveis de alerta (NA) e emergência (NE). “Há um considerável número de Nível de Emergência ou Nível de Alerta acionados e com DPA altos. Além de rompimentos é preciso considerar a possibilidade de vazamentos”, diz a pesquisa.
📙 Cultura
“Todos os territórios indígenas são espaços de escolas vivas. Debaixo da árvore, na beira do rio, na casa de reza, são lugares onde os saberes e fazeres ancestrais são repassados de geração em geração. A ação das escolas vivas é um processo de tecer redes de afeto e cuidado para acordar essas memórias que foram adormecendo com o passar dos anos”, afirma Cristine Takuá, educadora, artesã e escritora do Maxakali, além de coordenadora da iniciativa das Escolas Vivas, que busca expandir os saberes ancestrais e fortalecer as culturas indígenas. O Nonada explica como funcionam as escolas vivas dentro dos territórios de diversos povos originários.
🎧 Podcast
Fazer cenas de sexo em produções audiovisuais é um desafio para atores e atrizes independente da experiência. Nos últimos anos, no entanto, o cinema e as séries de TV parecem estar evitando o erotismo e cenas do tipo, além de plataformas de streaming que incluíram ou pretendem incluir uma opção de “pular” esses momentos. A “Rádio Escafandro”, produção Rádio Guarda-Chuva, mergulha em como o sexo é encenado na arte e conversa com Larissa Bracher, atriz, preparadora de elenco e coordenadora de intimidade, e a atriz Maeve Jinkings sobre como é feita a preparação dos artistas e a autonomia das atrizes e personagens femininas.
👩🏾⚕️ Saúde
A poliomielite – paralisia infantil – foi erradicada no Brasil há mais de 30 anos devido à vacinação intensa em bebês e crianças. Houve, no entanto, uma queda na cobertura vacinal. A taxa de imunização contra a doença é de 77,19%, abaixo da meta do Ministério da Saúde (95%). “Por causa de desinformação e fake news, muitos pais estão expondo as crianças a esse vírus”, alerta o infectologista Guilherme Roveri. “Só vamos perceber os prejuízos e os impactos na vida das famílias nos próximos anos”, completa. O Lunetas reúne relatos de como foi a infância de quem teve poliomielite e como a ciência continua estudando o vírus para a prevenção.