A abertura de uma universidade federal indígena e a 'bolha' da IA
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🔸 “Ao longo de 500 anos de história, a elite brasileira acumulou mais e mais privilégios que foram passados de geração em geração até a chegada ao dia de hoje. Entre muitos privilégios, talvez o mais vergonhoso seja pagar menos imposto de renda do que a classe média”, afirmou o presidente Lula (PT) em pronunciamento à TV e rádio. Após celebrar a isenção do imposto de renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais como apenas o primeiro passo para transformar a realidade econômica do país, ele defendeu a taxação dos super-ricos. O Congresso em Foco ressalta que Lula citou cálculos da Receita Federal que indicam que a isenção e a redução das alíquotas devem injetar R$ 8 bilhões na economia em 2026, aumentando o consumo e estimulando comércio, indústria, serviços e a geração de empregos.
🔸 Com previsão de que o PL Antifacção entre em votação no Senado nesta semana, o Ministério da Justiça e da Segurança Pública enviou um documento ao senador Alessandro Vieira (MDB-SE), relator do projeto na Casa, apontando “problemas essenciais” do texto aprovado pela Câmara, cuja relatoria foi do deputado Guilherme Derrite (PP-SP), ex-secretário de Segurança Pública do Estado de São Paulo. O levantamento do governo aponta riscos jurídicos, inconstitucionalidades, conflitos normativos e mudanças que podem fragilizar o combate ao crime organizado, ao contrário do que pretende o projeto. A CartaCapital reúne os dez pontos principais destacados pela pasta, como enfraquecimento da polícia federal, tipos penais amplos que podem criminalizar movimentos sociais e risco de punição a moradores de comunidades dominadas por facções.
🔸 “Segurança pública é coisa séria, não é para fazer populismo, e infelizmente o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), nomeou um relator que queria fazer política, não estava pensando em segurança pública”, diz o secretário Nacional de Segurança Pública, Mario Luiz Sarrubbo. Segundo ele, o PL Antifacção enviado pelo governo ao Congresso foi “jogado no lixo em pouco mais de meia hora após a nomeação do relator”. O “Economia Legal”, projeto do Jota, traz as críticas de Sarrubbo à nomeação de Derrite como relator da proposta e às mudanças feitas pelo ex-secretário de Tarcísio. “Ao invés de reformar a Lei das Organizações Criminosas, cria um novo marco, com uma sobreposição de tipos penais, com conflitos aparentes entre normas penais e uma série de inconstitucionalidades.”
🔸 Na semana passada, Lula encaminhou ao Congresso dois projetos de lei que criam novas universidades públicas. Entre elas está a Universidade Federal Indígena (Unind), proposta discutida desde 2010, que prevê a existência de cinco campi, cuja sede ficará em Brasília, no espaço ocupado pela atual Universidade dos Correios. Até o momento, a ideia é oferecer dez cursos de graduação e pós-graduação, incluindo direito, agroecologia e engenharia. “Por muitos séculos, nós indígenas fomos excluídos dos espaços formais de produção e circulação de conhecimentos. Em resposta a essa violência que a proposta institucional da Universidade Indígena está inserida”, afirmou Gersem Baniwa, professor da Universidade de Brasília (UnB) durante anúncio do governo federal. Segundo o Nexo, a proposta agora precisa ser analisada e aprovada pelo Congresso, como determina o decreto que regulamenta o sistema federal de ensino no país. A inauguração das novas universidades deve acontecer até o final de 2026, com início das atividades em 2027.
📮 Outras histórias
“Quando sinto medo, treino mais, foco mais no que quero conquistar. Aprendi a usar o medo como meu aliado.” Derek Rabelo é o único surfista cego que já encarou ondas de até 15 metros em locais como Pipeline (Havaí), Teahupoo (Taiti) e Nazaré (Portugal), conta o Plural. Nascido no Espírito Santo, Rabelo se acostumou cedo ao mar de Guarapari e aprendeu a “ler” as ondas pela audição e sensibilidade corporal. “Tenho que estar sempre atento a todos os meus sentidos. Ouço o barulho da onda quebrando para saber quando preciso furá-la e passar por baixo. Uma onda grande pode machucar ou até ser fatal.” Pioneiro no surfe adaptado, o capixaba acredita que aconteceram avanços importantes no Brasil. “Quando comecei, não havia outras pessoas. Hoje já vemos mais atletas com diferentes deficiências. É muito bacana. Espero que cresça cada vez mais”, relata.
📌 Investigação
Na corrida global por terras raras e minerais críticos, compradores chineses, guerrilheiros colombianos, forças estatais corruptas e comunidades indígenas acirram conflitos territoriais na fronteira entre Colômbia e Venezuela. A necessidade da extração dos elementos para a transição energética global, combinada com o aumento dos orçamentos de defesa e o desenvolvimento tecnológico, aumenta a tensão em territórios controlados por grupos armados. No “Amazon Underworld”, a InfoAmazonia revela um dos lados mais sombrios do aumento da demanda pelos minerais críticos na Amazônia a partir de uma rota de comércio ilegal que chega à China. “Os chineses também compram pedras; estão todos juntos, os chineses e os elenos [do ELN]. Não é segredo para ninguém, porque somos garimpeiros. Estão lá com eles. Eu acho que são as mesmas pessoas, porque comem juntos, compram materiais juntos e descem do helicóptero juntos”, relata um homem que dedicou toda vida ao garimpo e atua no município de Cedeño, na Venezuela.
🍂 Meio ambiente
Às margens de igarapés, entre becos estreitos e barrancos instáveis, 112 mil famílias de Manaus (AM) convivem com a ameaça de deslizamentos, enxurradas, alagamentos e erosões. “Nós nos sentimos muito prejudicados e esquecidos pelo Poder Público. Aqui tem família, tem história. Pessoas perderam suas casas, outras perderam tudo. A gente queria que olhassem por nós, porque parece que esqueceram que existimos”, afirma o serralheiro Célio Nascimento, morador do bairro Tancredo Neves, na zona leste. A Revista Cenarium destaca que a região abriga parte dos cerca de 28 mil domicílios que estão em áreas classificadas como risco alto ou muito alto, segundo levantamento do Serviço Geológico do Brasil. Em seis anos, o número de moradores expostos a esses perigos cresceu 53%, um aumento de mais de 40 mil pessoas desde 2019.
📙 Cultura
Era 1945 quando o piano Steinway Modelo S Baby chegou à vida do compositor Francis Hime, aos 6 anos. O instrumento moldou sua educação musical, mesclando influências eruditas e populares desde cedo, e não só viu nascer a primeira composição de Hime em parceria com Vinicius de Moraes, mas também se tornou um polo criativo para dezenas de grandes da MPB, como Milton Nascimento, Gilberto Gil, Gal Costa, Elis Regina, Chico Buarque, Paulinho da Viola e Lenine. O Farofafá narra o papel crucial do octogenário Steinway no desenvolvimento de clássicos de Hime e seus parceiros por décadas. Hoje, aos 86 anos, o artista continua em atividade musical, já seu companheiro de longa data vive um semi-repouso e necessita de alguns reparos.
🎧 Podcast
Um dos maiores poetas do século 20 e da língua portuguesa, Fernando Pessoa não chegou a ver o próprio sucesso: a maior parte de sua obra foi publicada postumamente, após a descoberta, em seu apartamento, de uma arca com mais de 30 mil manuscritos em três idiomas e atribuídos a uma centena de autores. A mítica ao redor do poeta nasceu também depois de sua morte com a descoberta de seus heterônimos, como Álvaro de Campos, Alberto Caeiro e Ricardo Reis, tão autônomos que tinham até biografias fictícias. Em episódio especial nos 90 anos de morte de Pessoa, o “451 MHz”, produção da Quatro Cinco Um, mergulha na vida e legado do poeta, que seguem como um quebra-cabeça que intrigam e entretêm estudiosos, artistas e leitores.
📲 Tecnologia
Com investimentos trilionários, a concentração inédita no mercado de IA aumentou o debate sobre os riscos de bolha – quando os preços caem, os investidores recuam, e as empresas que dependiam de fluxos constantes de capital frequentemente falham. Em artigo na Fast Company Brasil, o pesquisador Paulo Carvão, da Universidade de Harvard, explica como o setor de inteligência artificial precisa se consolidar para sustentar um crescimento real. “A verdadeira corrida não se trata de modelos cada vez maiores nas mãos de algumas poucas empresas. Trata-se de liberar a competição e permitir que um mercado diversificado impulsione novas ideias para o mundo. A inovação se espalha quando muitos participantes criam, testam e iteram. É assim que bolhas se transformam em grandes avanços.”




