A live de Lula e o viés do algoritmo nas plataformas de música
Uma curadoria do melhor do jornalismo digital, produzido pelas associadas à Ajor. Novos ângulos para assuntos do dia
🔸 A CPMI dos atos golpistas aprovou pedido de acesso ao celular de Jair Bolsonaro (PL). A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito quer que a Polícia Federal compartilhe os dados extraídos do aparelho na apuração do suposto esquema de fraude nos cartões de vacina do ex-presidente e da filha dele. A quebra de sigilo de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, também foi aprovada. O Headline destaca que a maioria das convocações aprovadas são para ouvir aliados bolsonaristas, como Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, e Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional.
🔸 “Anderson Torres e Mauro Cid são as pessoas que precisam iniciar as oitivas aqui na CPMI”, disse a relatora da comissão, senadora Eliziane Gama (PSD-MA). Na minuta da relatora com a previsão dos depoimentos, à qual o Congresso em Foco teve acesso, Cid será ouvido já na próxima terça-feira. Dois dias depois, será a vez de Torres. O general Augusto Heleno viria por último nessa primeira leva, marcado para falar no dia 13 de julho. Mas o presidente da CPMI, deputado Arthur Maia, afirmou que ainda vai avaliar o cronograma.
🔸 Os casos mais graves do 8 de janeiro serão julgados em seis meses. A afirmação foi feita pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ontem em Brasília. Nos Encontros piauí, evento promovido pela revista piauí em parceria com o YouTube, o magistrado explicou que as denúncias devem chegar à Corte em blocos (de 30 por vez). Presidente do Tribunal Superior Eleitoral, ele afirmou ainda que não há qualquer intenção política no timing do julgamento que pode tornar Bolsonaro inelegível, marcado para o dia 22. Segundo ele, a denúncia contra o ex-presidente caiu na “vala comum”, sem tratamento diferenciado.
🔸 O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) estreou ontem sua live semanal. Ele conversou com o jornalista Marcos Uchôa, da estatal EBC, num programa transmitido ao vivo pelas redes sociais do petista. Passou por temas como a redução de impostos para baixar o preço dos carros, sua relação com o agronegócio e os planos para obras de infraestrutura. A comparação com as lives semanas de Bolsonaro é inevitável e, até por isso, a própria comunicação de Lula vem evitando a palavra “live”. O “Durma com Essa”, podcast do Nexo, explora as diferenças estéticas e de conteúdo das transmissões.
🔸 Em tempo: na live, Lula fez um apanhado dos primeiros meses de governo. A Agência Lupa checou algumas das afirmações do presidente. Ele errou ao dizer que o Brasil já teve 16 milhões de inscritos no Enem – o máximo até hoje foi de 8,7 milhões, em 2014 – e exagerou ao mencionar que seu governo encontrou 14 mil obras paralisadas (eram pouco mais de 8.600).
🔸 A tropa de Arthur Lira (PP-AL). O presidente da Câmara está há 30 anos na política e sobreviveu a pelo menos três escândalos. Se ele sai incólume, assessores suportam as acusações sem jamais expor o deputado nas apurações. A Agência Pública conta quem são os homens de Lira. Em 2007, na Operação Taturana, que investigava se o parlamentar liderava um suposto esquema de “rachadinhas”, o inquérito chegou a Djair Marcelino da Silva, próximo do deputado e apontado como o operador do esquema. Em 2012, Jaymerson Amorim foi detido no aeroporto de Congonhas quando tentava embarcar com mais de R$ 106 mil escondidos no corpo e nos bolsos do paletó – ele era assessor de Lira. Neste ano, por fim, outro assessor, Luciano Ferreira Cavalcante, é investigado no esquema de compras de kits de robótica para escolas do Nordeste.
🔸 Acusado de manter uma mulher negra por 37 anos em condições análogas à escravidão, o desembargador Jorge Luiz de Borba diz que vai entrar com pedido formal para adotá-la. A adoção seria uma forma de obter reconhecimento jurídico de uma relação familiar que ele alega ter com Sônia Maria de Jesus, de 50 anos, resgatada na casa dele em Florianópolis (SC). O Notícia Preta informa que as testemunhas ouvidas pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) disseram que a relação era outra. Sônia cumpria jornadas exaustivas e não tinha convívio social fora da casa. Surda, não aprendeu a língua brasileira de sinais. Nunca teve carteira assinada. Já o desembargador acumulou rendimentos brutos de cerca de R$477 mil desde o início do ano.
📮 Outras histórias
Quem são os universitários da Rocinha, favela na zona sul do Rio de Janeiro? Por meio da Lei de Acesso à Informação, o Fala Roça contabilizou 38 estudantes da comunidade matriculados em 2022 em quatro universidades públicas do Rio e identificou 22 deles para traçar seu perfil. Em média, eles têm de 20 a 24 anos, concluíram o Ensino Médio em escola pública e estão matriculados nos cursos de Direito, Pedagogia, Administração e Geografia. Em conversa com os estudantes, a reportagem encontrou realidades diversas, mas uma demanda em comum: segurança financeira – para garantir desde a alimentação e o transporte a fim de ter possibilidades de aproveitar o que estão aprendendo.
📌 Investigação
Em vídeo: um dos principais órgãos do país, o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) enfrenta a pior crise de sua história. Ao mesmo tempo que a instituição passa por processo de digitalização dos atendimentos, convive com um parque tecnológico precário, em que os sistemas saem do ar cotidianamente por problemas técnicos. Mas esse não é o único problema. O INSS passou por um enxugamento drástico no número de servidores, já que muitos se aposentaram, e não foram realizados novos concursos. “Em 2016, estávamos em torno de 37 mil servidores no Brasil inteiro. Hoje, estamos com 18 mil”, afirma Vilma Ramos, diretora do Sinssp, sindicato dos trabalhadores do órgão em São Paulo. No documentário “Nosso INSS”, a Repórter Brasil esmiúça o colapso da entidade responsável pela distribuição de renda a 37 milhões de brasileiros.
🍂 Meio ambiente
“Quando notamos já estavam acabando com a vegetação, abrindo estradas, passando as máquinas e tudo isso com a autorização do Ibama.” A afirmação é da agricultora familiar Luiza Cavalcante, de 62 anos, proprietária do Sítio Agatha, localizado no Engenho Toco, em Tracunhaém, Zona da Mata Norte de Pernambuco. Ela é parte da história de resistência que garantiu a criação de assentamentos e a concessão de uso das terras aos agricultores da região pelo Incra. O Marco Zero revela que o território agora está novamente em disputa devido às linhas de transmissão de energia eólica que avançam sobre as casas e vegetação do local. O empreendimento é da Rialma S/A, do Grupo Rialma, gerenciada pela família Caiado – da qual faz parte o governador de Goiás, Ronaldo Caiado. “Eles estão destruindo justamente a nossa área mais rica de plantação”, diz Luiza.
A criação de escolas sustentáveis só é possível com a participação contínua das crianças. Com os desafios socioambientais em pauta, diversas unidades de ensino públicas e privadas estão investindo no fortalecimento da educação ambiental, como narra o Lunetas. Engenheira ambiental, pedagoga e diretora da Reconectta, organização que desenvolve programas de educação sustentável em instituições, Aline Campello Fanti explica que o engajamento das crianças e responsáveis é necessário para que as atividades tenham efeitos: “O ensino da sustentabilidade precisa caminhar junto com a participação da comunidade escolar em processos de transformação, para que crianças e adultos partilhem desses valores”.
📙 Cultura
A falta de acesso a espaços de leitura nas periferias levou Jean Ferreira a criar o Sebo do Gueto, em Jurunas, bairro periférico de Belém (PA), em 2018. A iniciativa criou também uma plataforma gamificada que oferece livros de graça. Para recebê-los, os participantes precisam interagir por meio de debates, resenha ou exposição de impressões após o término de uma obra. “O Sebo do Gueto já trazia quem lia, queríamos trazer quem não lia”, diz Jean. Por isso, ele criou o Gueto Hub, um espaço que integra livros, empreendedorismo e memória, com uma galeria de arte chamada de Museu D’água, que retrata a importância de recuperar os igarapés do território. O Nonada narra como o ativista tem movimentado o bairro, mesclando leitura, arte e consciência ambiental.
Com discussões sobre branquitude, política e inteligência artificial na fotografia, a Feira do Livro bateu recorde de público – mais de 30 mil pessoas passaram pelas atividades no Pacaembu, em São Paulo, ao longo dos cinco dias de evento. A Quatro Cinco Um detalha como foram os debates, que contou com escritores de diferentes estilos literários, intelectuais, artistas e jornalistas. O encerramento lotou a Praça Charles Miller com uma edição ao vivo do podcast “Foro de Teresina”, da revista piauí, e reuniu as compositoras e cantoras Paula Lima, Tiê e Tulipa Ruiz para um bate-papo sobre o legado de Rita Lee.
🎧 Podcast
O trajeto que um alimento faz para chegar à cozinha é um tema que pesquisadores tentam entender todos os anos, já que a produção capitalista deixa o processo altamente complexo. O primeiro episódio da nova temporada do “Prato Cheio”, produção d’O Joio e O Trigo, explora caminhos curtos e longos do consumo em uma cadeia produtiva cheia de voltas e apresenta seus impactos sociais e ambientais. “Essa visão que a gente tem de que o consumidor não tem a menor ideia da origem do produto e quanto ele percorreu é cada vez mais verdadeira”, afirma o professor do Instituto de Economia da Unicamp e diretor do Instituto Fome Zero Walter Belik.
👩🏽💻 Tecnologia
Artistas masculinos são muito mais recomendados do que femininas no Spotify e Deezer, dois dos maiores serviços de streaming de música presentes no Brasil. É o que revela pesquisa do projeto Algo_Ritmos, do centro de estudos InternetLab. Segundo o Núcleo, os algoritmos das plataformas apresentaram homens em mais de 55% das recomendações, já mulheres ficaram com pouco mais de 20% em média – com o restante composto de grupos ou colaborações com pessoas de gêneros diferentes. A indicação enviesada acontece independentemente do gênero do usuário e do estilo musical. O estudo também mostra que não há acesso a como os artistas se identificam racialmente. Por isso, faltam dados sobre como os algoritmos recomendam artistas racializados.