A ausência de mulheres negras no STF e o maior emissor de CO2 do Nordeste
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🔸 Tratado nos bastidores como o provável novo ministro do Supremo Tribunal Federal, Jorge Messias é visto como um quadro equilibrado dentro do governo Lula para ocupar a vaga deixada por Luís Roberto Barroso na Corte. Recifense de 45 anos e atual ministro da Advocacia-Geral da União, Messias foi subchefe da Casa Civil no governo Dilma Rousseff e ganhou notoriedade em 2016, quando foi citado num telefonema entre a ex-presidente e Lula. Se confirmado para a Corte, ele, que é evangélico, deverá ser protagonista em temas que vão do aborto à regulamentação do trabalho por aplicativo, das apostas esportivas ao ensino de gênero nas escolas. A CartaCapital ouviu interlocutores e analisou manifestações públicas do ministro para entender seu posicionamento sobre esses temas. Quanto à descriminalização do aborto até a 12ª semana de gestação, por exemplo, pessoas próximas afirmam que Messias não abandonaria o raciocínio jurídico por dogmas religiosos – ele defende o papel do Estado laico e se pauta por critérios constitucionais, e não morais, ao interpretar a lei. Em tempo: nenhuma mulher aparece na lista de nomes cotados por Lula.
🔸 Ontem, organizações da sociedade civil, como Mulheres Negras Decidem, a Coalizão Negra por Direitos e o Instituto Juristas Negras, fizeram um protesto no Rio de Janeiro, onde Lula participava de um evento. Em nota, as entidades sugeriram nomes de juristas negras ao presidente: Adriana Cruz, Vera Lúcia Santana Araújo, Lívia Sant’Anna Vaz, Edilene Lôbo, Mônica Melo, Manuelita Hermes, Karen Luise Vilanova, Soraia Mendes, Sheila de Carvalho, Lívia Casseres, Lucineia Rosa e Flávia Martins. A Alma Preta lembra que esta é a terceira vez que movimentos populares se organizam pela indicação da primeira mulher negra no STF. Em 2023, a campanha por uma jurista negra alcançou mais de 3 milhões de pessoas. “O que nós temos agora é mais uma oportunidade de trazer essa reflexão e recuperar um argumento que é muito fundamental para a construção da democracia e da sociedade que nós queremos. Ter a participação das maiorias sociais em espaços de poder e de tomada de decisão é imprescindível para avançarmos como sociedade”, ressalta Taináh Pereira, coordenadora do Mulheres Negras Decidem.
🔸 “Quem acompanha [conferências climáticas] vê o total de líderes mundiais que são homens. As mulheres precisam ser ouvidas”, afirma Luana Kaingang, coordenadora geral da Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul (Arpinsul). Guardiãs de conhecimentos específicos, lideranças indígenas como ela têm um papel crucial na gestão do território, mas ainda têm participação incipiente nos debates. A Gênero e Número detalha o que elas querem da COP30, que ocorre de 10 a 21 de novembro em Belém. “Queremos assentos permanentes e voto em espaços de negociação”, afirma Jozileia Kaingang, diretora executiva da Articulação Nacional de Mulheres Indígenas Guerreiras da Ancestralidade (Anmiga). Elas também defendem o acesso direto ao financiamento climático para organizações lideradas por mulheres, sem intermediários. A reportagem lista ainda os marcos para mulheres originárias, relacionados à incidência internacional com foco nas questões de gênero, ambiental e climática.
🔸 A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, recebeu a mais alta honraria dada pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, na sigla em inglês). A Medalha Memorial John C. Phillips reconhece a contribuição de Marina para a conservação da natureza no mundo, como explica O Eco. “Esta honraria representa para mim não apenas um reconhecimento individual, mas um reconhecimento do esforço coletivo do povo brasileiro e das muitas pessoas, comunidades, instituições, que lutam incansavelmente pela defesa da vida, da floresta e do clima”, disse a ministra, em vídeo exibido na premiação. Por causa da agenda da COP30, ela não pode viajar para a cerimônia. “Suas conquistas não se limitam ao Brasil. Sua sabedoria, perseverança e defesa da natureza realmente promovem a causa da conservação em todo o mundo”, disse a presidente da IUCN Razan Khalifa Al Mubarak.
📮 Outras histórias
Na pequena cidade de Ibicaraí, na Bahia, o Dia do Professor, celebrado ontem, tornou-se um ato de cidadania. Com a mobilização de educadores da área de Ciências Humanas e da comunidade escolar, o Colégio Estadual em Tempo Integral Professora Eliete Malaquias arrecadou 91 cestas básicas que serão distribuídas a famílias vulneráveis do município. O Jornal Empoderado conversa com a professora de Filosofia, Tatiana Oliveira Evaristo, que coordenou a iniciativa que a escola mantém há mais de duas décadas. “A gente tenta trabalhar a questão da solidariedade e trabalhar também a questão da cidadania para os alunos”, afirma. “Ser professor nos dias de hoje é desafiador em vários aspectos, sobretudo quando falamos sobre disciplina e valorização. Mas eu, Tatiana, acredito que ainda seja uma grande missão, porque o professor transforma vidas e muda histórias.”
📌 Investigação
Mais de 1.500 pontos de venda de fumo estão a menos de 100 metros de escolas em todo o país. As tabacarias viveram um boom nos últimos anos: de 2010 a 2025, foram mais de 198 mil CNPJs abertos para estabelecimento de venda de fumígenos, com ápice entre 2017 e 2021, quando mais de 130 mil tabacarias foram registradas no país, que representa 65% desse total. Levantamento d’O Joio e O Trigo mapeou os pontos de venda e encontrou lojas próximas de crianças e adolescentes, que vendem, ao mesmo tempo, brinquedos e cigarros. Apenas cinco estados concentram 80% das tabacarias próximas a escolas: São Paulo lidera, com 486 tabacarias, seguido por Paraná (257), Santa Catarina (183), Rio de Janeiro (169) e Rio Grande do Sul (140).
🍂 Meio ambiente
Um município na Bahia com 33 mil habitantes é o maior emissor de carbono do Nordeste. São Desidério, na região oeste do estado, lançou na atmosfera mais de 7,9 milhões de toneladas de CO2 em 2023 – um salto de 84% em relação a 2021. Esse volume equivale a mais da metade do total registrado em São Paulo, metrópole com uma população 345 vezes maior. A Agência Tatu analisou os dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (SEEG), do Observatório do Clima, e explica que o motivo para as emissões do município vem da mudança no uso da terra. “A atividade de desmatamento é muito forte, muito intensa no Matopiba e é isso que causa as emissões em municípios como o de São Desidério. A cidade tem quase 90% de suas emissões atreladas ao desmatamento”, afirma David Tsai, engenheiro químico e coordenador do painel SEEG.
📙 Cultura
“Quando o Quinteto surgiu, o Sudeste centralizava as gravadoras, as multinacionais, que determinavam o gosto nacional da música brasileira, as grandes emissoras de rádio e televisão, todo mundo pra fazer sucesso tinha que ir para o Sul. O Quinteto manteve-se aqui no Nordeste, e a gente sempre procurou valorizar os elementos daqui”, afirma o cantor, compositor e violonista Marcelo Melo, único membro remanescente da formação original do Quinteto Violado. O grupo está circulando pelo país com o espetáculo “Sertão”, que celebra a cultura nordestina, unindo música, teatro e literatura de cordel. Em entrevista ao Farofafá, o musicista fala sobre as referências musicais do Quinteto, como Luiz Gonzaga, a valorização da cultura nordestina e o legado do grupo ao atravessar gerações – são cinco décadas de história, com produções para diferentes mídias e tecnologias, como vinil, fita K7, CD, DVD e agora o streaming. “Terminando esse circuito, vamos para o estúdio registrar o ‘Sertão’. Queremos fazer um disco, um álbum para as redes sociais e um álbum físico desse trabalho.”
🎧 Podcast
A transformação da comunicação política com os algoritmos das redes sociais possibilitou a radicalização do discurso. O “Diálogos com a Inteligência”, produção do Meio, conversa com Arthur Ituassu, professor de Comunicação da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), sobre o impacto das plataformas digitais na comunicação entre políticos e eleitores. Ele traça um panorama histórico – do tempo em que os meios de comunicação de massa, como o rádio e a televisão, dominavam essa intermediação, até os dias atuais, com uma interlocução mais direta por meio das redes sociais, com a possibilidade de personalizar mensagens e segmentar públicos.
👩🏽🏫 Educação
Em vídeo: com casas construídas de caixas de sapato e ônibus de caixa de leite, as crianças da Escolas Municipais de Ensino Fundamental (EMEF) Duque de Caxias, em São Paulo (SP), aprenderam a dinâmica das construções e da mobilidade urbana. O Porvir conta que a ideia foi do professor de Geografia Paulo Magalhães, que ficou conhecido pelo projeto “Aula Pública”. Desde 2016, a iniciativa transforma ruas, museus, praças, prédios históricos e outros espaços públicos em extensões da sala de aula. Em 2021, ele foi vencedor do Global Teacher Award, da organização indiana Aks Education Awards, e do Prêmio Educador Nota 10.