Os 5 anos do crime de Brumadinho e os direitos trans no governo Lula
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🔸 O Brasil registrou em média três desastres naturais por dia em 2023. É o maior número desde 2011, segundo o Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). O ano passado concentrou 1.161 ocorrências, e Manaus foi a cidade com mais registros, seguida por São Paulo, Petrópolis (RJ), Rio de Janeiro e Brusque (SC). O Notícia Preta informa que a maioria (61,6%) dos desastres foram hidrológicos, ou seja, inundações, enxurradas e alagamentos. Em segundo lugar, estão os geológicos (38,3%), como erosões, deslizamentos e afundamentos.
🔸 Na cidade de São Paulo, quase 200 mil moradias estão em áreas de risco de deslizamento de terra. É o que revela levantamento da Agência Pública a partir de dados do GeoSampa, portal mantido pela Prefeitura de São Paulo. A quantidade de territórios vulneráveis vem aumentando: nos últimos 20 anos, mais que dobrou. A reportagem ouve moradores que vivem em residências precárias por falta de opção, como o catador de reciclagens José Amaro da Silva, de 58 anos, que mora numa casa no alto de um barranco há 23 anos, na comunidade da Capadócia. “Quem não gostaria, moço, de morar em outro lugar? Onde eu gostaria de morar? Numa casa bem bonita”, diz.
🔸 Uma mala com todos os documentos da família está sempre pronta na casa de Joselma Evaristo Valério. “Na hora que precisar correr, é a primeira coisa que a gente vai puxar”, explica. Seu temor é que a casa venha a desabar por causa do afundamento do solo causado pela mina da Braskem, em Maceió. Como ela, outros moradores criaram planos de fuga, narra o Intercept Brasil. Nas comunidades Flexal de Cima, Flexal de Baixo e Quebradas, na capital alagoana, 3.200 moradores vivem com medo enquanto vêem surgir rachaduras nas casas e buracos nas ruas. Periféricas, essas comunidades não foram consideradas em área de risco pela Braskem e pela Defesa Civil. Por isso, os moradores não tiveram direito à realocação.
🔸 Há exatos cinco anos, Brumadinho (MG) foi coberta por lama depois do rompimento de uma barragem da Vale. “É angustiante ver a impunidade persistir, com os responsáveis ainda não julgados”, diz Silas Fialho, morador do Parque da Cachoeira, em Brumadinho (MG), uma das vítimas da “tragédia-crime”, como define o Projeto Colabora. Silas perdeu um primo, passou a tomar remédios para dormir e diz que vê pouca evolução da justiça nos últimos cinco anos. “A Vale mantém controle na região, imóveis foram adquiridos pela empresa, e a população enfrenta problemas de saúde pela contaminação. A violência aumentou, casas foram abandonadas, e a Justiça parece favorecer os poderosos.” Especialistas apontam a falta de escuta dos moradores e a dificuldade de dados estatísticos, embora seja notório o aumento de problemas de saúde mental, como depressão e até tentativas de suicídio.
📮 Outras histórias
Todos os dias na Rocinha, mais de 15 localidades ficam sem luz. A informação é da Associação Pró-Melhoramentos dos Moradores da Rocinha (UPMMR), comunidade na zona sul do Rio de Janeiro. O Fala Roça conta que, à noite, o apagão no morro é nítido pelo mar de luzes apagadas. “Estou desde a tarde do dia 16 de janeiro sem luz. A maior dificuldade é o calor e a escuridão. Espero aguentar e estar viva até o final do verão”, diz Laura Martins, de 22 anos, que também mora na Travessa Gregório, uma das áreas mais afetadas na Rocinha pela falta de fornecimento de energia. Segundo funcionários da Light, o problema é causado pelo superaquecimento de transformadores e cabos que estão espalhados pelos sub-bairros da Rocinha.
📌 Investigação
Patrocinadora do BBB24, o Kwai falha em moderar vídeos, comentários e perfis que sexualizam crianças e adolescentes, proliferando a distribuição desse tipo de conteúdo para cada vez mais usuários na rede. O Núcleo revela que, aos recém-chegados, a rede social exibe vídeos sexualmente sugestivos de influenciadoras mirins em contextos de duplo sentido, que vão ficando mais explícitos à medida que o uso do aplicativo se intensifica. A plataforma também exibe vídeos em que, nas caixas de comentários, os perfis anunciam a troca e venda de conteúdos de exploração sexual de menores. Em novembro de 2023, o próprio Kwai exibiu à equipe de reportagem um vídeo que incluía nudez infantil, com o texto “menina de vestido rosa participa de brincadeira sem calcinha”. O conteúdo foi removido após contato com a assessoria de imprensa, mas o perfil que o compartilhou segue ativo.
🍂 Meio ambiente
“O Mamoré e o Madeira são rios importantíssimos para nossa região, porque através deles navegamos para o escoamento da nossa produção e, principalmente, os peixes”, afirma Arão Oro Waram Xijeim, liderança da Terra Indígena Igarapé Lage, em Rondônia, próxima à fronteira com a Bolívia. É nessa região que os governos brasileiro e boliviano fecharam uma parceria para a Hidrelétrica Binacional do Rio Madeira. O Eco conta como povos tradicionais e ambientalistas têm se articulado contra o projeto, que pode ter diversos impactos socioambientais na Amazônia, como já se observou em outras usinas construídas na região.
📙 Cultura
Produtores, musicistas, atores, DJs, dançarinos, escritores e artistas visuais são alguns dos trabalhadores da cultura na Maré, conjunto de 16 favelas da zona norte do Rio de Janeiro. Uma pesquisa feita com 70 artistas mostra que a maioria é formada por pessoas negras, com menos de 30 anos e sem renda individual ou limitada a menos de dois salários mínimos. Menos de 3% desses trabalhadores conseguem manter as despesas familiares apenas com a arte. Ao Maré de Notícias o ator, cantor, compositor, slammer e percussionista Êlme Peres, de 23 anos, relata os desafios de ser artista independente. “Eu sou autodidata em todas as áreas artísticas que pratico. Muitas empresas e instituições da sociedade, em geral, não credibilizam a arte de pessoas com formações parecidas com a minha. Para mim, a favela em si é uma forma de academia intelectual.”
🎧 Podcast
Em dezembro de 2021, a população do sudoeste da Bahia viveu uma situação de emergência causada por fortes chuvas, com mortes, feridos e desabamentos de casas e estradas. À época, dos mais de 60 quilombos afetados, 14 estavam em Vitória da Conquista. O “Fatos & Vozes”, produção do Conquista Repórter, detalha como as comunidades quilombolas foram impactadas pelo episódio e sofrem ainda hoje quando as chuvas são intensas. Nesses períodos, vários desses territórios ficam sem água e isolados.
✊🏽 Direitos humanos
Apesar da criação da Secretaria Nacional LGBTQIA+, da retomada do Conselho Nacional dos Direitos das Pessoas LGBTQIA+ e de editais de apoio à comunidade, o primeiro ano de governo Lula (PT) ainda teve muitos entraves na implementação efetiva de políticas públicas para essa população, sobretudo em relação a pessoas trans. Em 2022, quando Lula foi eleito, a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) sistematizou 20 demandas enviadas à equipe de transição. Passado o primeiro ano do mandato, as urgências seguem as mesmas. A Agência Diadorim lembra ainda que houve retrocessos, como a manutenção do campo “sexo” e da distinção entre o nome social e o nome de registro documentados no novo RG.
Apanhado muito bom!