Os 20 anos da lista do trabalho escravo e o jogo do bicho nas redes
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🔸 A lista suja do trabalho escravo completa 20 anos neste mês. Se mais de 54,4 mil trabalhadores foram resgatados desde então, pelo menos 40 empresas autuadas conseguiram ficar fora da lista por decisões judiciais. É o que mostra estudo de Maurício Krespky, auditor fiscal do Trabalho, e Lívia Mendes, coordenadora da Clínica de Trabalho Escravo e Tráfico de Pessoas da UFMG. A Agência Nossa identificou as empresas, cujos nomes não são citados no estudo, e detalha os acordos que fizeram com a União. Entre elas, estão a construtora MRV e a JBS Aves, que, numa ação judicial contra o governo, quer anular dois autos de infração. A reportagem conversa com fontes sobre as ações das empresas e lembra que o motivo mais frequente (presente em 43% das decisões judiciais) é o de que a inclusão na listagem pode causar ao empregador prejuízos financeiros, já que os bancos restringem crédito bancário para quem figura na lista suja.
🔸 Os brasileiros que estavam na Faixa de Gaza chegam hoje ao Brasil, depois de cruzar a fronteira com o Egito na manhã de ontem. O Congresso em Foco lembra que o grupo é formado por 22 brasileiros de nascimento, sete palestinos naturalizados brasileiros e três palestinos familiares próximos. Dos 32 repatriados, 17 são crianças, nove mulheres e seis homens. Foram mais de três semanas à espera de autorização das autoridades para cruzar a fronteira. O voo de volta é o décimo da operação do governo brasileiro que, ao todo, transportou 1.477 passageiros.
🔸 Com a onda de calor nesta semana, seis estados e o Distrito Federal estão em alerta de grande risco para a saúde, informa o Nexo. Ontem, no Rio de Janeiro, a sensação térmica chegou a 50,5ºC. Em São Paulo, a média da temperatura máxima no dia foi de 36,9°C, a maior para novembro desde 2004. “Será uma semana que mudará a estatística climática nacional”, afirma a meteorologista Estael Sias. Uma das causas do calor recorde neste ano é o fenômeno El Niño, que poderá se alongar até abril de 2024.
🔸 Uma semana depois do início do blecaute, o apagão na Grande São Paulo ainda deixava mais de 11 mil imóveis sem energia elétrica, no final de semana. O governador, o prefeito e diretores da Enel (empresa de energia) culpam-se mutuamente, e a venda da estatal Eletropaulo para a multinacional italiana Enel é apontada como a principal causa. A privatização foi seguida de precarização do trabalho, demissões e aumento de tarifas. No Intercept Brasil, o cientista social e jornalista João Filho afirma: “Quando uma estatal é colocada à venda, o argumento central dos defensores da privatização é de que haverá maior eficiência no serviço prestado e menor custo para o consumidor. Trata-se de uma falácia que o tempo trata de refutar. Invariavelmente ocorre justamente o contrário, exemplos não faltam”.
🔸 A propósito: o corte de luz nos bairros periféricos de São Paulo é até oito vezes mais frequente que no centro da capital, revela a Agência Pública. O Jardim Ângela, na zona sul da cidade, é o distrito com a maior frequência de falta de luz em São Paulo – nos últimos 12 meses, foram em média quase nove interrupções. Já bairros como Bela Vista, Consolação e Jardim Paulista tiveram uma média de interrupção de energia no último ano de apenas 45 minutos. “Fiquei com a impressão de que, por meu bairro estar numa região periférica, a luz demorou muito mais para retornar”, afirma o comerciante Ariosvaldo Ribeiro. Ildo Sauer, membro do Instituto de Energia e Ambiente da USP, confirma: “A Enel, com suas equipes precárias, atendeu primeiro as regiões que gritam mais alto e tem mais dinheiro e poder econômico. Só depois é que foram cuidar da periferia”.
📮 Outras histórias
“Estava tomando banho para ir trabalhar. Na época, eu trabalhava no Museu da Maré, meu filho tinha voltado para casa porque não teve aula, e eu pedi para ele ir comprar pão. Escutei um barulho mas achei que eram fogos por ser final de ano […]. Quando saí do banheiro vi meu filho caído no chão e me desesperei.” Gracilene Rodrigues de Carvalho é mãe de Matheus Rodrigues de Carvalho, então com 8 anos, assassinado por um policial militar no Complexo da Maré há 15 anos. Ela relembrou a história numa roda de conversa com mães de vítimas da violência armada no complexo de favelas na zona norte do Rio. A partir do encontro, o Maré de Notícias debate os direitos à memória e ao luto, negados aos moradores de favela.
📌 Investigação
Atividade ilegal de longa data no Brasil, o jogo do bicho está também nas redes sociais, desde grupos no WhatsApp até lives no Youtube com os resultados do dia e dicas sobre como configurar a maquininha do cartão para rodar o software do jogo. O Núcleo revela que, mesmo contrariando a legislação do país, essas comunidades podem ser encontradas facilmente em qualquer buscador e também se relaciona com o crescimento de jogos de azar online, como as apostas esportivas. Esse é um problema de grande escala, uma vez que o jogo do bicho ajuda a financiar outros tipos de crimes e criminosos, como as milícias no Rio de Janeiro.
🍂 Meio ambiente
Com o fortalecimento da fiscalização ambiental na Amazônia, madeireiros ilegais estão utilizando serrarias móveis. A prática consiste em realizar as etapas de tratamento e corte ainda dentro das florestas, evitando o transporte de tora crua, que chama a atenção, e de desmatamentos capazes de ser detectados pelos satélites. O Eco destaca que, entre agosto e outubro, uma operação de agentes da Reserva Biológica do Gurupi, no Maranhão, e do Ibama desmontou uma serraria móvel na unidade de conservação. Foram detidas mais de 20 pessoas envolvidas no tráfico de madeira, além da apreensão de mais de 100 metros cúbicos de madeira já beneficiadas e de equipamentos utilizados pelo madeireiros, como caminhonetes, motosserras e até mesmo armas de fogo.
📙 Cultura
“Eu acredito que o brasileiro é diverso, e é interessante ter a habilidade de conseguir se adaptar.” Vitória do Pife, de 23 anos, é uma das jovens da nova geração que mantém viva a tradição popular das bandas de pífano, como conta a revista O Grito!. Comum no Nordeste, especialmente no Sertão e Agreste de Pernambuco, o pífano, ou pife, é um tipo de flauta transversal. “Eu acho que, de sete anos pra cá, uma nova geração de jovens vem se interessando pelo pífano, e o instrumento vem ganhando uma grande proporção, tanto aqui pela região Nordeste – não tanto quanto o merecido – quanto fora. Tem blocos de pífano em São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Curitiba”, diz Vitória.
Cria da Rocinha, favela na zona sul do Rio de Janeiro, Luthuly Ayodele, de 29 anos, foi indicado ao Grammy Latino na categoria “Melhor Vídeo Musical Versão Curta”, com o videoclipe “Fixação”, do EP ‘O Que É O Amor. A premiação acontece nesta quinta-feira, em Sevilha, na Espanha. Ao Fala Roça Luthuly conta sua trajetória na música e sua vivência na Rocinha. “Sempre tive muita conexão, vivência e amor com o lugar artístico e musical. Quando era pequeno fazia uma brincadeira: filtrava os talentos dos meus parentes, e juntos, fazíamos releituras de funks que eram populares na nossa época.”
🎧 Podcast
Pastor na cidade de Itacoatiara (AM), Arison Farias de Aguiar é acusado de lucrar com o sofrimento de dependentes químicos a partir do projeto Resgatando Cativos, com o suposto objetivo de resgatar e recuperar usuários de drogas. O segundo episódio da série “O Pastor”, da “Rádio Escafandro”, produção da Rádio Guarda-Chuva, mergulha nos conteúdos das lives do líder religioso, em que os internos da instituição são frequentemente abusados e humilhados ao vivo no Facebook, e conversa com um grupo de pessoas que decidiu por conta própria investigar a iniciativa.
🧑🏽🏫 Educação
Com as provas de vestibulares a partir deste mês, os estudantes veem o estresse e a ansiedade aumentarem, como pensamentos fixos, falta de concentração, hábito de roer as unhas, insônia, alteração do apetite, choro e crises de pânico. A Agência Mural ouviu a psicóloga especialista em psicopedagogia Adriana Ferreira de Almeida para dar dicas e ajudar os candidatos a manter a calma, cuidar da saúde mental e também se preparar nos dias anteriores às provas.